JUSTIÇA - Adolescentes não merecem a pena de morte
Por Gail Garinger, The New York Times News Service/Syndicate
Boston _ No fim dos anos 1980, um pequeno mas influente grupo de
criminologistas previu a chegada de uma onda de violentos crimes juvenis:
"superpredadores" de 11 anos cometendo crimes em "matilhas". Os políticos logo
reagiram a esses temores e às preocupações acerca da inadequação do sistema de
justiça juvenil, diminuindo a idade mínima para a transferência de crianças para
os tribunais adultos. A preocupação era que os delinquentes processados como
menores teriam de ser liberados com a idade de 18 ou 21 anos.
Ao mesmo tempo, a retórica de "intolerância ao crime" levou alguns estados a
promulgar leis que tornaram mais fácil a imposição de penas de prisão perpétua
sem direito à liberdade condicional para adultos. A consequência não intencional
dessas leis foi que crianças com 13 ou 14 anos que foram acusadas como adultos
ficaram sujeitas a sentenças de prisão perpétua sem direito à liberdade
condicional.
Em todo o país, 79 jovens adolescentes foram sentenciados a morrer na prisão
_ um tipo de sentença que não é aplicada a crianças em nenhum outro lugar do
planeta. Disseram a essas crianças que elas jamais poderiam mudar e que ninguém
se importava com seu futuro. Elas tiveram negado o acesso à educação e a
programas de reabilitação, e foram deixadas sem ajuda e sem esperança.
Mas a previsão de uma geração de superpredadores jamais chegou a se
concretizar. A partir de meados dos anos 1990, o número de crimes violentos
praticados por jovens diminuiu e continuou diminuindo até os dias de hoje.
Entretanto, as leis que foram promulgadas para lidar com eles continuam
existindo. Neste mês, a Suprema Corte dos Estados Unidos irá ouvir alegações em
dois casos, Jackson vs. Hobbs e Miller vs. Alabama, e irá decidir se crianças
podem ser condenadas à prisão perpétua sem direito à liberdade condicional após
serem condenadas por homicídio.
A Suprema Corte já derrubou a pena de morte para menores de idade e a prisão
perpétua sem direito à liberdade condicional para jovens delinquentes condenados
em casos que não envolvam homicídio. A justificativa para as decisões anteriores
é simples e igualmente aplicável aos casos que serão ouvidos: Pessoas jovens são
biologicamente diferentes de adultos. Estudos de imagens cerebrais revelam que a
região do cérebro responsável por controlar pensamentos, ações e emoções ainda
não está completamente desenvolvida nos adolescentes. Eles não podem ser
julgados segundo os mesmos critérios quando cometem atos terrivelmente
errados.
O homicídio é o pior dos crimes, mas, ao eliminar a pena de morte para
adolescentes em 2005, a Suprema Corte reconheceu que, mesmo nos casos mais
sérios de assassinato, "os jovens delinquentes não podem ser classificados entre
os piores criminosos com segurança": eles são menos maduros, mais vulneráveis à
pressão alheia, são incapazes de escapar de ambientes perigosos e o seu caráter
ainda está em formação. E, uma vez que eles ainda não estão formados, é
impossível presumir que eles sempre representarão um risco inaceitável à
segurança pública.
A parte mais assustadora do mito do superpredador é que ele pressupõe que
algumas crianças são irremediavelmente defeituosas, talvez até geneticamente.
Atualmente, poucas pessoas acreditam que o gene do crime possa ser hereditário,
a não ser no sentido de que pais abusivos ou uma vida familiar negativa podem
deixar as crianças com poucas esperanças e escolhas limitadas.
Na qualidade de ex-juiz do tribunal juvenil, eu tenho visto em primeira mão a
enorme capacidade que as crianças têm de mudar e de se transformar
completamente. A mesma maleabilidade que as torna vulneráveis à pressão alheia
também as transforma em promissoras candidatas à reabilitação.
A esmagadora maioria dos delinquentes juvenis abandona o crime. Mas, no
momento da sentença, os profissionais de saúde mental não são capazes de prever
quais jovens farão parte dessa maioria e se tornarão cidadãos produtivos e
cumpridores da lei e quais cairão na pequena minoria que continua a cometer
crimes. Por essa razão, a Suprema Corte já reconheceu que as crianças não devem
ser condenadas a morrer na prisão sem que lhes seja dada uma "oportunidade
significativa de conseguir a liberdade com base na maturidade demonstrada e em
sua reabilitação".
Os criminologistas que promoveram a teoria do superpredador já reconheceram
que suas previsões jamais se concretizaram, repudiaram a teoria e expressaram
arrependimento. Eles se juntaram a dezenas de outros criminologistas e enviaram
uma carta à Suprema Corte pedindo para derrubar as sentenças de prisão perpétua
sem direito à condicional para crianças condenadas por assassinato. Exorto os
juízes a aplicar a lógica e a sabedoria de suas decisões anteriores e confirmar
que o melhor momento para decidir se uma pessoa deve passar toda a sua vida na
prisão é quando ela se torna adulta, não quando ainda é uma criança.
(Gail Garinger, juíza do tribunal juvenil de Massachusetts entre 1995 e 2008,
é defensora estadual da criança nomeada pelo governador do estado.)
The New York Times News Service/Syndicate – Todos os direitos reservados. É
proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York
Times.
Olimpia Pinheiro
Consultora Executiva
(91)8164-1073
CRA-PA/AP 3698
CRECI-PA/AP 6312
http://cinenegocioseimoveis.blogspot.com
cinegocioseimoveis@gmail.com
Consultora Executiva
(91)8164-1073
CRA-PA/AP 3698
CRECI-PA/AP 6312
http://cinenegocioseimoveis.blogspot.com
cinegocioseimoveis@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário