30/07/2014 0:00
O conflito entre Israel
e os palestinos se tornou apenas um palco no qual se expressam os choques
regionais no mundo árabe.
É surpreendente o
quanto a discussão sobre a guerra de Gaza se baseia na suposição de que ainda
estamos em 1979, na percepção de que a disputa israelense-palestina é contida
em si mesma, protagonizada pelas duas partes mais diretamente envolvidas. Ainda
se acredita que o horror pode ser contido se hábeis negociadores romperem o
impasse na direção de um acordo “dois povos, dois estados”. Mas não é mais
1979. A violência entre Israel e o Hamas, que controla Gaza, pode parecer a
mesma, mas o contexto em torno mudou.
O que ocorreu é que o
Oriente Médio iniciou o que Richard Haass, do Council on Foreign Relations,
chama de sua Guerra dos 30 Anos — série de conflitos e guerras por procuração
que se entrelaçam, podem durar décadas e transformar identidades, mapas e
contornos políticos da região.
A rivalidade
sunita-xiita está em plena ebulição. Despedaçado pela violência sectária, o
Iraque não mais existe em sua antiga forma.
A rivalidade entre o
autoritarismo árabe e o islamismo está em plena ebulição. Mais de 170 mil
sírios morreram numa terrível guerra civil, incluindo 700 em apenas dois dias,
há duas semanas, enquanto o mundo prestava atenção em Gaza.
A rivalidade sunita
contra sunita está em ebulição também. Arábia Saudita, Qatar, Turquia e outras
nações estão em meio a uma guerra fria intrassunita, enviando mensageiros de
aluguel que distorcem qualquer outra tensão na região.
A rivalidade
saudita-iraniana está forte também — os dois países manobram pela hegemonia
regional e contemplam uma corrida nuclear.
Em 1979, a situação
israelense-palestina era fluida, mas o mundo árabe em torno estava
relativamente estagnado. Agora, a região é um caldeirão de mudanças
convulsivas, enquanto o conflito entre Israel e palestinos se tornou
repetitivo.
Aqui está o resultado:
as grandes convulsões regionais estão conduzindo os eventos, incluindo a guerra
em Gaza. O conflito palestino-israelense se tornou apenas um palco no qual se
expressam os choques regionais no mundo árabe. Quando se chocam, dão tiros em
Israel para ganhar vantagem uns sobre os outros.
Veja como os combates
em Gaza foram atiçados. Defensores do autoritarismo e islamitas estão em luta
pelo controle do Egito. Depois da Primavera Árabe, os islamitas assumiram o
controle. Mas, quando o governo da Irmandade Muçulmana foi derrubado pelos
militares, estes iniciaram a repressão. Sentenciaram à morte centenas de
líderes da Irmandade. Fecharam 95% dos túneis que conectavam Egito a Gaza, onde
a cria da Irmandade, o Hamas, está no poder.
Como pretendido, a
iniciativa egípcia foi economicamente devastadora para o Hamas. Este tirava 40%
de sua receita das tarifas sobre mercadorias que passavam por esses túneis. Um
economista estimou o prejuízo em US$ 460 milhões por ano, quase um quinto do
PIB de Gaza.
O Hamas precisava
acabar com o bloqueio, mas, sem poder atacar o Egito, atacou Israel. Se o Hamas
pudesse emergir como o lutador heroico numa guerra contra o Estado judeu, se as
telas das TVs árabes se enchessem de civis palestinos mortos, a revolta da
opinião pública forçaria o Egito a levantar o bloqueio. Vítimas civis eram
parte do plano. O alvo era o Cairo.
Todo o conflito passa a
sensação de uma guerra por procuração. Turquia e Qatar apoiam o Hamas na
esperança de ficar por cima em sua rivalidade regional com Egito e Arábia
Saudita. Egípcios e até sauditas estão discretamente torcendo para Israel, para
que sua máquina de guerra enfraqueça o Hamas. Em 1979, a disputa
árabe-israelense parecia um choque de civilizações, entre a democracia
ocidental e a autocracia árabe. Hoje, parece um pedaço de um choque dentro da
civilização árabe, sobre seu futuro.
David Brooks é
colunista do “New York Times”
Osvaldo Aires
Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80
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É o nosso correspondente em Israel, Gabriel Guzovsky, com as últimas notícias direto da terrinha.
É o Mosaico na TV, o programa a mais tempo no ar da televisão.
Horários:
Quarta às 21h - Canal 9 da NET ou 186 da Vivo TV
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