NEGÓCIO/ECONOMIA - Babá de luxo, brasileira é disputada por celebridades nos Estados Unidos
Zenaide Muneton é uma das babás mais bem pagas de NY, diz agência.
Ela recebe salários equivalentes a mais de R$ 27 mil por mês.
31/03/2012 07h09- Atualizado em 31/03/2012 07h41
A paulistana Zenaide Muneton passou a última semana sendo entrevistada por celebridades e famílias milionárias dos Estados Unidos. Durante o processo de seleção para trabalhar como babá dos filhos de algumas das pessoas mais ricas e famosas do país, é ela quem vai definir quem vai contratá-la. Mesmo assim, há uma forte disputa pela chance de pagar a ela um salário equivalente a mais de R$ 27 mil por mês por seus serviços.
A babá brasileira Zenaide Muneton, com duas crianças de quem cuidava em Nova York (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)
“Quero encontrar uma família legal, com ótimas crianças e com quem possa viajar”, disse Zenaide em entrevista ao G1, por telefone, em meio ao processo de “seleção” do seu próximo empregador. “Sou eu que escolho com quem vou trabalhar, e já falei com um monte de gente conhecida”, disse.
O relato dela é confirmado por Seth Greenberg, vice-presidente da agência Pavillion, que é referência em encontrar empregados para as famílias mais ricas de Nova York e que representa Zenaide. “Desde que a conheci, percebi que ela tinha potencial de ser uma das melhores babás de todos os tempos”, disse Greenberg ao G1. Segundo ele, Zenaide é uma das babás mais bem pagas dos Estados Unidos, chegando a cobrar mais de US$ 180 mil por ano (o equivalente a R$ 27 mil por mês), mais benefícios.
O diferencial dela, dizem Greenberg e a própria babá, é a identificação com as crianças. "Elas a adoram, ficam encantadas por ela", disse o agente. Segundo a babá, as principais características de uma boa babá nos EUA devem ser inglês perfeito, paciência, gostar e ser boa com crianças, flexibilidade para viajar e mudar planos, saber ler historinhas, saber nadar e ter sempre uma mala pronta com brinquedos, remédios e comidas para as crianças. Ela recomenda ainda que os pais que procuram babás prestem atenção à experiência e às referências das babás entrevistadas, que busquem documentos e históricos policiais da candidata e que prefira babás com formação universitária em áreas que ajudem a entender as crianças.
A brasileira foi a principal entrevistada de uma reportagem publicada nesta semana pelo “New York Times” e pela rádio NPR a respeito dos altos valores pagos por babás de filhos dos moradores mais ricos de Nova York. Segundo as publicações, o mercado de babás de luxo não foi afetado pela crise econômica nos EUA, e as famílias pagam entre US$ 50 mil e US$ 200 mil (equivalente a salários mensais de R$ 7,5 mil e R$ 30 mil) por uma funcionária qualificada, experiente e com boas referências. “Há uma demanda imensa por empregados com aptidão e experiência. Quando somos procurados por babás com experiência e referências, é fácil encontrar emprego para elas”, disse Greenberg. Em São Paulo, o salário médio de uma babá é de R$ 1.300 por mês, segundo agências da cidade, quase um sexto do salário mais baixo pago às babás da agência americana.
Babá de celebridades
Zenaide ficou disponível para ser contratada recentemente, depois de trabalhar por seis anos cuidando dos filhos de um dos principais apresentadores de programas noturnos da TV norte-americana. “Não posso falar o nome dos meus empregadores, pois são pessoas que não querem ter a intimidade exposta”, diz, permitindo apenas pequenas dicas sobre seu currículo.Após duas décadas nos EUA, ela teve a experiência de trabalhar com cineastas australianos, de cuidar dos filhos do ator de uma das séries de mistério e ficção científica mais populares de todos os tempos (sempre que ele ia “buscar a verdade lá fora”). Trabalhou ainda com a família do protagonista de um dos filmes de maior bilheteria de 2004, sobre uma famosa guerra travada na antiguidade no território atual da Turquia.
Além de conviver com as celebridades e suas famílias, Zenaide trabalha em um sistema de dedicação total a seus empregadores, o que faz com que ela viaje pelo mundo, conheça outras pessoas do mundo do entretenimento e visite locações de filmagens junto com os atores com quem trabalha. Isso tudo, ela diz, sem que ela ao menos assista TV com frequência. “Nem conhecia o pessoal com quem ia trabalhar antes de ser contratada”, diz.
Zenaide diz ainda que as celebridades com quem trabalha são totalmente "pés no chão", sem afetações e sempre muito ligadas a seus filhos. Uma atriz que a contratou na Califórnia, ela conta, chegou a parar de trabalhar por um tempo para poder se dedicar totalmente a cuidar dos filhos (o que fez com que Zenaide fosse dispensada).
Em vez de prestar atenção na fama dos empregadores, Zenaide diz que se preocupa mesmo é com as crianças de que vai cuidar. “Adoro ser ‘nanny’ (babá). É um trabalho muito bacana e eu adoro crianças e sua sinceridade”, disse. Aos 49 anos, casada e sem filhos, ela diz que se acostumou a esta vida e que gosta muito dela, diz, sem ter planos de parar de trabalhar.
Começo difícil
Apesar de estar no topo da lista de babás mais bem pagas, Zenaide conta que o início na profissão não foi algo planejado ou fácil. "Eu nunca tinha pensado em ser babá, nem planejava ir embora do Brasil”, contou. "No começo foi muito difícil conseguir trabalho como babá porque eu não tinha experiência nem referência de empregos anteriores. Tive muita dificuldade em encontrar meu primeiro trabalho", disse.
Segundo Greenberg, da agência de empregos, é muito difícil encontrar uma colocação para uma babá sem experiência, e as referências anteriores são essenciais para “valorizar” o salário da profissional. A agência Pavillion recebe “milhares” de ofertas de babás procurando famílias e faz uma seleção das que vai representar, ele explicou. “Temos muito cuidado, pois apresentamos as babás às famílias e somos responsáveis por esta indicação”, disse. Segundo comparação feita na reportagem publicada na NPR, a seleção da Pavillion é mais rigorosa de que a feita para entrar na Universidade Harvard.
Zenaide viajou pela primeira vez aos Estados Unidos em 1990, a passeio, e acabou não voltando mais. O primeiro emprego dela como babá, na Carolina do Sul, apareceu por indicação de uma americana que trabalhava com a família e que Zenaide conheceu no Brasil. Foi esta americana que, depois do confisco das cadernetas de poupança pelo governo de Fernando Collor, recomendou que ela ficasse nos Estados Unidos e “nunca mais colocasse o dinheiro no Brasil”.
Começou ganhando US$ 100 por semana. Depois de um ano, seguiu para uma temporada de seis meses trabalhando na Áustria, e voltou aos EUA para procurar trabalho na Califórnia, "onde sabia que as babás ganhavam bem", conta. Foi quando procurou uma agência de empregos pela primeira vez, e conseguiu ser contratada.
Pobreza e riqueza
Filha de um casal de pernambucanos - seu pai era guarda noturno no Edifício Itália, no Centro de São Paulo, e sua mãe merendeira – Zenaide é a mais nova de seis irmãos e cresceu em uma família em que faltava dinheiro. "Fui criada numa vida simples. A gente era pobre, eu não tinha dinheiro nem para um pão doce, mas não chegava a faltar nada em casa", conta.
Quando tinha seis anos, sua irmã ganhou um curso de inglês. "Eram LPs com aulas que ensinavam a falar o idioma", contou. Sua irmã nunca tocou na coleção, mas Zenaide achou interessante, começou a ouvir repetidas vezes até decorar algumas lições, que recita até hoje. "Quando comecei a estudar inglês na escola, abri a boca e a professora quase caiu de susto. Sempre me dei muito bem com o idioma", diz. Este contato com a língua inglesa fez com que ela conseguisse ser promovida em seu emprego em uma multinacional, permitindo que ela juntasse dinheiro suficiente para viajar a passeio para os EUA, em 1990.
Depois de se estabelecer na Califórnia trabalhando como babá e ganhando pouco, Zenaide conseguiu, através de um anúncio no jornal, mudar de emprego e passou a ganhar US$ 650 por semana. Foi quando conseguiu guardar uma parte do dinheiro, e diz que a primeira coisa que fez com o acumulado foi comprar uma casa para sua mãe. "Comprei um sobrado para ela em São Paulo por US$ 20 mil. Hoje a casa vale R$ 340 mil", disse.
Dali por diante foi vendo sua situação financeira melhorar. Foi contratada por um casal de cineastas, que passaram a pagar US$ 20 por hora trabalhada (resultando em mais de US$ 1 mil por semana). Fez outros trabalhos mais esporádicos e, na primeira metade da década de 2000, já ganhava US$ 85 mil por ano (cerca de R$ 13 mil por mês), até que se mudou para Nova York e passou ao salário de US$ 180 mil por ano.
Além de comprar a casa em que a mãe vive em São Paulo até hoje, Zenaide conta que já ajudou muito os irmãos. Ela também investiu em imóveis próprios nos Estados Unidos e no Brasil. Ela agora escolhe com que família vai trabalhar nos próximos anos, e depois não pretende parar, mas diz que seu objetivo principal é fugir dos invernos. “Quero sempre viajar para onde estiver fazendo calor.”
Clube das babás de elite
Zenaide Muneton demorou só 20 segundos para me convencer de que ela era a babá perfeita. Com o cabelo escuro e curto e um sorriso divertido e radiante, ela sabe como deixar tudo mais divertido para as crianças. Hora de escovar os dentes? Ela sacode os braços e faz uma espécie de "dança da escovação". Hora do banho? Ela leva os braços para cima e para baixo, marchando até a banheira. Depois de dizer a ela que eu adoraria contratá-la, ela sorriu e me agradeceu.
E então ambos rimos, porque eu jamais seria capaz de pagá-la. Sendo uma das babás de elite da cidade de Nova York, Muneton ganha cerca de 180.000 dólares por ano - mais um bônus de Natal e um apartamento de 3.000 dólares mensais no Central Park West. Eu deveria ser a babá dela!
Comecei a pesquisar essa microeconomia bizarra pouco depois que minha mulher e eu começamos a procurar alguém para tomar conta do nosso filho algumas horas por semana. Nos encontramos com várias candidatas, todas com ótimas referências e que pareciam à vontade com o menino. Ainda assim, não sabíamos como julgá-las. Deveríamos contratar a que pareceu mais divertida? A mais experiente? Alguém com inglês nativo ou alguém que pudesse ensinar-lhe outra língua? Alguém com diploma? Com mestrado?
Não tínhamos ideia. Então comecei a imaginar se os preços seriam uma informação valiosa no mercado de babás. Todas as candidatas com quem conversamos cobravam entre 15 e 18 dólares por hora, o que, embora muito comum no nosso bairro do Brooklyn, pareceu um bom negócio depois de descobrir que outras babás cobrariam mais que o dobro dessa taxa. Meu filho sofreria nas mãos de uma babá "média"?
Esse medo me levou à Pavillion Agency, empresa especializada em encontrar empregados domésticos para a elite de Nova York. A Pavillion me apresentou a Muneton, de 49 anos, que cresceu numa família bem pobre em São Paulo. Em 1990, ela fez amizade com uma jovem americana que havia se mudado para o Brasil. Quando Muneton a convidou para visitar a casa de sua família, a jovem viu a facilidade com que ela cuidava das crianças e sugeriu que ela se mudasse para os EUA e virasse babá. Em poucos meses, Muneton já estava cuidado das crianças de uma família rica na Carolina do Sul, cobrando apenas 100 dólares por semana.
Quando Muneton começou a trabalhar para a Pavillion em 2002, ela conseguiu aumentar seu salário para 85.000 dólares por ano. Conforme ela juntava recomendações, ela aumentava seu preço. Ela acabou trabalhando para algumas das pessoas mais ricas do mundo, a quem acompanhou, em jatinhos particulares, aos resorts mais exclusivos. "Hoje", ela diz, "não há mais gente pobre na minha família". Muneton comprou uma boa casa para a mãe, um apartamento para a irmã e um táxi para cada um de seus irmãos. Ela também é proprietária de uma casa de praia no Brasil, uma cobertura em Miami e dois imóveis (um prédio de 6 unidades e um duplex) em Los Angeles.
Como uma babá ganha mais do que um pediatra médio? A resposta simples é trabalho duro - além de um estranho mercado vendedor que segue alguns princípios econômicos peculiares. A vida de uma típica babá cara (quase sempre são mulheres) efetivamente gira em torno da família para a qual ela trabalha. Segundo Cliff Greenhouse, presidente da Pavillion, esse tipo de comprometimento está embutido no preço. Muitos clientes estão pagando pelo privilégio de não terem que se preocupar com o cuidado dos filhos, o que significa nunca ter que se preocupar se sua babá tem planos. O que, claro, ela quase nunca pode ter.
E, infelizmente, ao que parece não há babás "boas" o suficiente sempre à disposição para uma emergência. Especialmente já que as exigências de uma família rica podem ser bem específicas. De acordo com o presidente da Pavillion, Seth Norman Greenberg, uma babá pode cobrar mais pelo serviço se falar francês fluentemente (ou, cada vez mais, mandarim), souber preparar uma refeição sofisticada, ou montar, lavar e tosar um cavalo. Greenberg também já conheceu famílias que apreciavam babás que conseguissem pilotar um barco de 32 pés, ajudassem a gerenciar um acervo de artes, ou ainda, em um caso, uma que dirigisse um Zamboni para limpar uma pista de gelo particular.
E, por fim, há a ascensão social. "Muitas famílias, especialmente os novos ricos, se preocupam em ver seus filhos se aproximarem de crianças abastadas", relata Greenhouse. "Como elas fazem isso? Elas acham uma babá estrela que já tenha muitos contatos, muitas amigas babás que trabalham com famílias de alto nível". Há as inatingíveis também. "Estou trabalhando com uma babá caribenha agora", diz Greenhouse. "Ela é linda de morrer. Sua aparência é tão boa que você sente orgulho em tê-la ao lado de seus filhos, nos eventos mais sofisticados."
Minha esposa e eu não ligamos para nada disso. Mas fica difícil não imaginar se as babás que estão cobrando duas vezes mais por hora do que as que estamos contratando são também duas vezes melhores. As babás podem ser avaliadas do mesmo modo que os artigos que os economistas chamam de "bens de experiência" - como o vinho, cujo valor só pode ser determinado depois de experimentá-lo. Tratando-se de bens de experiência, os preços podem ajudar na hora de rejeitar ofertas abaixo de um valor mínimo. Afinal de contas, uma garrafa de vinho de 3 dólares e uma babá de 5 dólares a hora parecem bastante suspeitos.
Mas o preço é inútil - ou pior, ilusório - na diferenciação entre as opções adequadas. Muitas vezes já pressupus que uma garrafa de vinho de 40 dólares fosse duas vezes melhor que uma de 20, embora a Associação Americana de Economistas de Vinho já tenha provado que o preço do vinho não tem nenhuma influência no prazer em apreciá-lo. Quando os leigos compram uma garrafa cara, estão agindo como pais de primeira viagem contratando uma babá: Estão basicamente pagando pela falsa sensação de segurança. Ou querendo impressionar alguém.
Na verdade, os preços das babás podem ser ainda mais ilusórios que o mercado de vinho. Elas também podem ser consideradas "bens de credibilidade", um termo econômico para algo - seja um frasco de vitaminas ou um sintonizador automático - cujo valor real não pode ser determinado. É mais fácil que você pague mais por um bem de credibilidade, na esperança de que o preço alto aumente a probabilidade de um benefício.
Então, se a economia não consegue definir um preço para a hora das babás, quem o fará? Jeanne Brooks-Gun, diretora do Centro Nacional para Crianças e Famílias da Universidade de Columbia, me assegurou de que os acadêmicos, grosso modo, não fazem ideia do impacto que uma babá exerce numa criança. Não houve nenhum tipo de estudo sério sobre a qualidade das babás, pois seria quase impossível obter permissão das babás (geralmente pagas "por fora") ou de seus empregadores. Além disso, a maioria das pesquisas é dedicada a crianças de risco ou deficientes; e os filhos das pessoas que têm dinheiro suficiente para contratar essas babás geralmente não fazem parte desse grupo.
Brooks-Gunn, contudo, tinha algumas dicas para quais podem ser as características de uma boa babá. A mais importante é o grau de sensibilidade para com os interesses e o humor da criança. Brooks-Gunn disse que ao escolher uma babá, ela simplesmente entregou seu filho nas mãos das entrevistadas e escolheu aquela que reagiu com mais sensibilidade.
Depois da nossa conversa, falei com uma de suas alunas da pós-graduação, Erin Bumgarner, que faz bicos de meio período como babá por 17 dólares a hora - mesma quantia que os pais de Park Slope pagam às babás estrangeiras e sem formação acadêmica. Eu não pude pensar em nenhuma outra área em que pessoas com graus de escolaridade tão distintos pudessem ganhar a mesma quantia. Mas Bumgarner me disse que isso faz sentido. Ela está disposta a trabalhar apenas para os pais de quem ela gosta - ela já saiu de um serviço bem remunerado por isso - e que permitam que ela se foque nos estudos. O valor disso também está no preço. Mesmo que custe a ela um apartamento em West Central Park.
(Adam Davidson é cofundador do blog e podcast Planet Money, da National Public Radio.)
The New York Times News Service/Syndicate – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.
A babá brasileira Zenaide Muneton, com duas crianças de quem cuidava em Nova York (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)
A pedido do G1, brasileira que é babá de luxo nos EUA dá dicas para babás e pais que querem contratar babás | |
---|---|
Dicas para babás | Dicas para pais que querem contratar babás |
Falar bem o idioma do país (inglês no caso dos EUA) | Observar as referências das candidatas |
Ser paciente | Avaliar histórico policial da babá |
Gostar de crianças e saber lidar com elas | Descobrir histórico da babá no Detran para saber se já foi multada dirigindo |
Ter flexibilidade e disponibilidade para viajar | Ter formação universitária é bom |
Ter sempre uma mala pronta com brinquedos, lanches e roupas para as crianças | Avaliar a experiência profissional da babá |
Saber ler historinhas | Ter cuidado e prestar atenção durante entrevista |
Saber nadar | Avaliar todos os documentos |
O diferencial dela, dizem Greenberg e a própria babá, é a identificação com as crianças. "Elas a adoram, ficam encantadas por ela", disse o agente. Segundo a babá, as principais características de uma boa babá nos EUA devem ser inglês perfeito, paciência, gostar e ser boa com crianças, flexibilidade para viajar e mudar planos, saber ler historinhas, saber nadar e ter sempre uma mala pronta com brinquedos, remédios e comidas para as crianças. Ela recomenda ainda que os pais que procuram babás prestem atenção à experiência e às referências das babás entrevistadas, que busquem documentos e históricos policiais da candidata e que prefira babás com formação universitária em áreas que ajudem a entender as crianças.
A brasileira foi a principal entrevistada de uma reportagem publicada nesta semana pelo “New York Times” e pela rádio NPR a respeito dos altos valores pagos por babás de filhos dos moradores mais ricos de Nova York. Segundo as publicações, o mercado de babás de luxo não foi afetado pela crise econômica nos EUA, e as famílias pagam entre US$ 50 mil e US$ 200 mil (equivalente a salários mensais de R$ 7,5 mil e R$ 30 mil) por uma funcionária qualificada, experiente e com boas referências. “Há uma demanda imensa por empregados com aptidão e experiência. Quando somos procurados por babás com experiência e referências, é fácil encontrar emprego para elas”, disse Greenberg. Em São Paulo, o salário médio de uma babá é de R$ 1.300 por mês, segundo agências da cidade, quase um sexto do salário mais baixo pago às babás da agência americana.
Para quem Zenaide já trabalhou |
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1 - Apresentador de programa noturno da TV dos Estados Unidos |
2 - Ator de um dos filmes mais assistidos de 2004, sobre uma guerra no atual território da Turquia |
3 - Casal de atores em que o marido atuou em uma das séries mais populares de mistério e ficção científica da TV. |
4 - Diretor de uma das maiores franquias de filmes de fantasia da última década |
Zenaide ficou disponível para ser contratada recentemente, depois de trabalhar por seis anos cuidando dos filhos de um dos principais apresentadores de programas noturnos da TV norte-americana. “Não posso falar o nome dos meus empregadores, pois são pessoas que não querem ter a intimidade exposta”, diz, permitindo apenas pequenas dicas sobre seu currículo.Após duas décadas nos EUA, ela teve a experiência de trabalhar com cineastas australianos, de cuidar dos filhos do ator de uma das séries de mistério e ficção científica mais populares de todos os tempos (sempre que ele ia “buscar a verdade lá fora”). Trabalhou ainda com a família do protagonista de um dos filmes de maior bilheteria de 2004, sobre uma famosa guerra travada na antiguidade no território atual da Turquia.
Além de conviver com as celebridades e suas famílias, Zenaide trabalha em um sistema de dedicação total a seus empregadores, o que faz com que ela viaje pelo mundo, conheça outras pessoas do mundo do entretenimento e visite locações de filmagens junto com os atores com quem trabalha. Isso tudo, ela diz, sem que ela ao menos assista TV com frequência. “Nem conhecia o pessoal com quem ia trabalhar antes de ser contratada”, diz.
Zenaide diz ainda que as celebridades com quem trabalha são totalmente "pés no chão", sem afetações e sempre muito ligadas a seus filhos. Uma atriz que a contratou na Califórnia, ela conta, chegou a parar de trabalhar por um tempo para poder se dedicar totalmente a cuidar dos filhos (o que fez com que Zenaide fosse dispensada).
Em vez de prestar atenção na fama dos empregadores, Zenaide diz que se preocupa mesmo é com as crianças de que vai cuidar. “Adoro ser ‘nanny’ (babá). É um trabalho muito bacana e eu adoro crianças e sua sinceridade”, disse. Aos 49 anos, casada e sem filhos, ela diz que se acostumou a esta vida e que gosta muito dela, diz, sem ter planos de parar de trabalhar.
Começo difícil
Apesar de estar no topo da lista de babás mais bem pagas, Zenaide conta que o início na profissão não foi algo planejado ou fácil. "Eu nunca tinha pensado em ser babá, nem planejava ir embora do Brasil”, contou. "No começo foi muito difícil conseguir trabalho como babá porque eu não tinha experiência nem referência de empregos anteriores. Tive muita dificuldade em encontrar meu primeiro trabalho", disse.
Segundo Greenberg, da agência de empregos, é muito difícil encontrar uma colocação para uma babá sem experiência, e as referências anteriores são essenciais para “valorizar” o salário da profissional. A agência Pavillion recebe “milhares” de ofertas de babás procurando famílias e faz uma seleção das que vai representar, ele explicou. “Temos muito cuidado, pois apresentamos as babás às famílias e somos responsáveis por esta indicação”, disse. Segundo comparação feita na reportagem publicada na NPR, a seleção da Pavillion é mais rigorosa de que a feita para entrar na Universidade Harvard.
Zenaide viajou pela primeira vez aos Estados Unidos em 1990, a passeio, e acabou não voltando mais. O primeiro emprego dela como babá, na Carolina do Sul, apareceu por indicação de uma americana que trabalhava com a família e que Zenaide conheceu no Brasil. Foi esta americana que, depois do confisco das cadernetas de poupança pelo governo de Fernando Collor, recomendou que ela ficasse nos Estados Unidos e “nunca mais colocasse o dinheiro no Brasil”.
Começou ganhando US$ 100 por semana. Depois de um ano, seguiu para uma temporada de seis meses trabalhando na Áustria, e voltou aos EUA para procurar trabalho na Califórnia, "onde sabia que as babás ganhavam bem", conta. Foi quando procurou uma agência de empregos pela primeira vez, e conseguiu ser contratada.
Pobreza e riqueza
Filha de um casal de pernambucanos - seu pai era guarda noturno no Edifício Itália, no Centro de São Paulo, e sua mãe merendeira – Zenaide é a mais nova de seis irmãos e cresceu em uma família em que faltava dinheiro. "Fui criada numa vida simples. A gente era pobre, eu não tinha dinheiro nem para um pão doce, mas não chegava a faltar nada em casa", conta.
Quando tinha seis anos, sua irmã ganhou um curso de inglês. "Eram LPs com aulas que ensinavam a falar o idioma", contou. Sua irmã nunca tocou na coleção, mas Zenaide achou interessante, começou a ouvir repetidas vezes até decorar algumas lições, que recita até hoje. "Quando comecei a estudar inglês na escola, abri a boca e a professora quase caiu de susto. Sempre me dei muito bem com o idioma", diz. Este contato com a língua inglesa fez com que ela conseguisse ser promovida em seu emprego em uma multinacional, permitindo que ela juntasse dinheiro suficiente para viajar a passeio para os EUA, em 1990.
Depois de se estabelecer na Califórnia trabalhando como babá e ganhando pouco, Zenaide conseguiu, através de um anúncio no jornal, mudar de emprego e passou a ganhar US$ 650 por semana. Foi quando conseguiu guardar uma parte do dinheiro, e diz que a primeira coisa que fez com o acumulado foi comprar uma casa para sua mãe. "Comprei um sobrado para ela em São Paulo por US$ 20 mil. Hoje a casa vale R$ 340 mil", disse.
Dali por diante foi vendo sua situação financeira melhorar. Foi contratada por um casal de cineastas, que passaram a pagar US$ 20 por hora trabalhada (resultando em mais de US$ 1 mil por semana). Fez outros trabalhos mais esporádicos e, na primeira metade da década de 2000, já ganhava US$ 85 mil por ano (cerca de R$ 13 mil por mês), até que se mudou para Nova York e passou ao salário de US$ 180 mil por ano.
Além de comprar a casa em que a mãe vive em São Paulo até hoje, Zenaide conta que já ajudou muito os irmãos. Ela também investiu em imóveis próprios nos Estados Unidos e no Brasil. Ela agora escolhe com que família vai trabalhar nos próximos anos, e depois não pretende parar, mas diz que seu objetivo principal é fugir dos invernos. “Quero sempre viajar para onde estiver fazendo calor.”
Clube das babás de elite
E então ambos rimos, porque eu jamais seria capaz de pagá-la. Sendo uma das babás de elite da cidade de Nova York, Muneton ganha cerca de 180.000 dólares por ano - mais um bônus de Natal e um apartamento de 3.000 dólares mensais no Central Park West. Eu deveria ser a babá dela!
Comecei a pesquisar essa microeconomia bizarra pouco depois que minha mulher e eu começamos a procurar alguém para tomar conta do nosso filho algumas horas por semana. Nos encontramos com várias candidatas, todas com ótimas referências e que pareciam à vontade com o menino. Ainda assim, não sabíamos como julgá-las. Deveríamos contratar a que pareceu mais divertida? A mais experiente? Alguém com inglês nativo ou alguém que pudesse ensinar-lhe outra língua? Alguém com diploma? Com mestrado?
Esse medo me levou à Pavillion Agency, empresa especializada em encontrar empregados domésticos para a elite de Nova York. A Pavillion me apresentou a Muneton, de 49 anos, que cresceu numa família bem pobre em São Paulo. Em 1990, ela fez amizade com uma jovem americana que havia se mudado para o Brasil. Quando Muneton a convidou para visitar a casa de sua família, a jovem viu a facilidade com que ela cuidava das crianças e sugeriu que ela se mudasse para os EUA e virasse babá. Em poucos meses, Muneton já estava cuidado das crianças de uma família rica na Carolina do Sul, cobrando apenas 100 dólares por semana.
Como uma babá ganha mais do que um pediatra médio? A resposta simples é trabalho duro - além de um estranho mercado vendedor que segue alguns princípios econômicos peculiares. A vida de uma típica babá cara (quase sempre são mulheres) efetivamente gira em torno da família para a qual ela trabalha. Segundo Cliff Greenhouse, presidente da Pavillion, esse tipo de comprometimento está embutido no preço. Muitos clientes estão pagando pelo privilégio de não terem que se preocupar com o cuidado dos filhos, o que significa nunca ter que se preocupar se sua babá tem planos. O que, claro, ela quase nunca pode ter.
E, por fim, há a ascensão social. "Muitas famílias, especialmente os novos ricos, se preocupam em ver seus filhos se aproximarem de crianças abastadas", relata Greenhouse. "Como elas fazem isso? Elas acham uma babá estrela que já tenha muitos contatos, muitas amigas babás que trabalham com famílias de alto nível". Há as inatingíveis também. "Estou trabalhando com uma babá caribenha agora", diz Greenhouse. "Ela é linda de morrer. Sua aparência é tão boa que você sente orgulho em tê-la ao lado de seus filhos, nos eventos mais sofisticados."
Minha esposa e eu não ligamos para nada disso. Mas fica difícil não imaginar se as babás que estão cobrando duas vezes mais por hora do que as que estamos contratando são também duas vezes melhores. As babás podem ser avaliadas do mesmo modo que os artigos que os economistas chamam de "bens de experiência" - como o vinho, cujo valor só pode ser determinado depois de experimentá-lo. Tratando-se de bens de experiência, os preços podem ajudar na hora de rejeitar ofertas abaixo de um valor mínimo. Afinal de contas, uma garrafa de vinho de 3 dólares e uma babá de 5 dólares a hora parecem bastante suspeitos.
Na verdade, os preços das babás podem ser ainda mais ilusórios que o mercado de vinho. Elas também podem ser consideradas "bens de credibilidade", um termo econômico para algo - seja um frasco de vitaminas ou um sintonizador automático - cujo valor real não pode ser determinado. É mais fácil que você pague mais por um bem de credibilidade, na esperança de que o preço alto aumente a probabilidade de um benefício.
Então, se a economia não consegue definir um preço para a hora das babás, quem o fará? Jeanne Brooks-Gun, diretora do Centro Nacional para Crianças e Famílias da Universidade de Columbia, me assegurou de que os acadêmicos, grosso modo, não fazem ideia do impacto que uma babá exerce numa criança. Não houve nenhum tipo de estudo sério sobre a qualidade das babás, pois seria quase impossível obter permissão das babás (geralmente pagas "por fora") ou de seus empregadores. Além disso, a maioria das pesquisas é dedicada a crianças de risco ou deficientes; e os filhos das pessoas que têm dinheiro suficiente para contratar essas babás geralmente não fazem parte desse grupo.
Depois da nossa conversa, falei com uma de suas alunas da pós-graduação, Erin Bumgarner, que faz bicos de meio período como babá por 17 dólares a hora - mesma quantia que os pais de Park Slope pagam às babás estrangeiras e sem formação acadêmica. Eu não pude pensar em nenhuma outra área em que pessoas com graus de escolaridade tão distintos pudessem ganhar a mesma quantia. Mas Bumgarner me disse que isso faz sentido. Ela está disposta a trabalhar apenas para os pais de quem ela gosta - ela já saiu de um serviço bem remunerado por isso - e que permitam que ela se foque nos estudos. O valor disso também está no preço. Mesmo que custe a ela um apartamento em West Central Park.
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Obrigada e sucesso a todos nós.
Olimpia Pinheiro
Consultora Executiva
(91)8164-1073
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