Sob a gestão de Graça Foster, a Petrobras perdeu R$ 201 bilhões em valor de mercado ( foto: Leo Pinheiro/Valor)
Graça Foster queria ser lembrada como a presidente que aumentou a produção de petróleo no Brasil, mas entrará para a história pela companhia estar envolvida em um escândalo de corrupção de proporções imensas
Em novembro de 2012, entrevistei Graça Foster para um perfil na revista DINHEIRO, que a escolhera a EMPREENDEDORA DO ANO.
Com apenas nove meses à frente da companhia, ela estava chacoalhando as estruturas da maior empresa do Brasil com seu jeito de fazer as coisas.
Ela revisara todas as metas de produção da Petrobras até 2020 e tinha muita convicção de que iria conseguir atingir suas metas. “Eu quero aumentar a produção de óleo e sair desse incômodo que tenho com relação com as ações da companhia”, disse ela, na ocasião.
Com sua renúncia, Graça Foster deixa um legado da qual, com certeza, não honrará seu currículo. Em sua gestão, a Petrobras encolheu R$ 201 bilhões em valor de mercado. As ações preferenciais, as mais negociadas, desvalorizaram-se 53,9% desde 13 de fevereiro de 2012, quando Graça assumiu o comando da empresa. A Ambev, o Itaú e o Bradesco hoje valem mais do que a Petrobras na bolsa de valores.
Graça era funcionária de carreira e tinha uma relação de amor com a Petrobras, tanto que dizia a quem quisesse ouvir que a empresa era a prioridade de sua vida. “Eu adoro ir para a praia, escutar música” disse ela, para mim, na entrevista. “Mas tantas coisas que adoro deixo de fazer por que eu quero fazer a Petrobras.”
Graça me disse gostaria de ser lembrada como a presidente que aumentou a produção de petróleo da Petrobras. Mas provavelmente sua gestão entrará para a história por deixar a maior empresa do Brasil mergulhada, até a última gota de óleo, em um dos maiores escândalos de corrupção do País.
É um triste fim para Graça Foster na Petrobras.
Confira a integra da entrevista, realizada em novembro de 2012:
Como a sra. prefere ser chamada: presidente ou presidenta?
Eu prefiro presidente. Presidenta é só para ela (e mostra uma foto da presidente Dilma Rousseff que está na sua sala).
Qual o momento mais difícil que a sra. enfrentou nesses nove meses à frente da Petrobras?
Todos são momentos complicados. Para mim, foi deixar claro a nossa menor produção de óleo. Nós não deixaremos de produzir. Mas admitimos que vamos produzir mais tarde. Isso exigiu um estudo profundo. Falar a verdade, para mim, sempre é muito fácil. Foi difícil termos a documentação de tudo aquilo. Mas é uma questão de amadurecimento. O pré-sal começa em 2006 e é razoável levar quatro a cinco anos colhendo informações e rompendo a barreira do conteúdo local. Criar tudo isso, abrir estaleiros, definir os fornecedores, leva muito tempo. E nem tudo ocorre como você previa. Tivemos atrasos muito grande das sondas de perfuração feitas no Exterior, que variaram de seis meses a mais de dois anos. Mas chega um momento em que dá para dizer que a verdade dos dados e dos fatos é essa. Esse momento foi muito difícil.
Algum momento de conforto?
Nenhum. Não tem como ter. Estamos atrasados dois anos. Você não pode ter conforto.
Como classifica a sua gestão: é de ruptura ou de continuidade?
Ela é uma gestão de continuidade pelo fato de que quando estava na diretoria de gás e energia, eu fazia exatamente o que cobro hoje. Eu arrisco a dizer – e o Gabrielli (José Sergio Gabrilli, ex-presidente da Petrobras) pode falar que não concorda – que a gente estaria fazendo hoje a mesma coisa. O que muda são os estilos. Eu tenho um estilo de ser. Ele tem o jeito dele. Não temos a mesma caligrafia. Por isso que existe tanta ciência em torno da caligrafia.
A sra. acredita que a Petrobras vai cumprir a meta de produção de óleo de 2020?
Eu acredito, por que está na mão. E não por que eu sou a presidente da Petrobras. Está na mão por que esse tempo que passou foi fundamental para criar maturidade. Não há suposições ou se. O único “se” é a estabilidade econômica e o consumo continuar aquecido. Acontecendo tudo isso, eu demonstro por A, mais B e mais C que vamos atingir a meta.
A necessidade de comprar grande parte dos produtos no Brasil não pode atrapalhar o plano de atingir essa meta?
Isso é um fato consumado. Supondo que atrapalhasse, já estaria atrapalhando. O conteúdo local faz parte. Ele está na conta.
Mas a sra. já deu algumas declarações que demonstram uma flexibilização, dizendo que valoriza o conteúdo local possível?
Aquilo que é possível fazer aqui tem de fazer aqui. Quando estou nas reuniões de diretoria, não quero saber o quanto vou fazer aqui, mas o que não será feito aqui e por quê. Mas vai ter de demonstrar a razão. Vamos fazer o possível que não signifique atrasos, além dos atrasos que são esperados. Todas as sondas atrasaram e não tinham 1% de conteúdo local. Mas não podemos atrasar aqui, nem com as compras do Exterior.
O seu estilo de gestão é frequentemente comparado com o da presidenta Dilma. A sra. concorda com essa comparação?
Eu aprendi com a presidenta Dilma Rousseff muito do que sei. Eu sou uma aluna dela. Ela era Secretária de Energia do Rio Grande do Sul e eu gerente da área de gás na Petrobras. Mas a nossa relação era permanente. Depois fui trabalhar com ela durante anos. Hoje, ela é a representante do controlador. A semelhança pode estar na forma objetiva de preparar tudo, de planejar, de fazer um trabalho de gestão importante, de trabalhar com metas e indicadores, de cobrar. Eu não tenho a menor paciência para lidar com pessoas que estão completamente despreparadas para uma reunião e ainda te ocupam o tempo. Eu me preparo para as reuniões e cobro isso dos outros.
A sra. também tem fama de ser centralizadora. Isso mudou ao assumir a presidência?
Não posso mais acompanhar tanto quanto acompanhava. Não sei se é centralizar, mas eu preciso estar perto. Sempre digo para os diretores e gerentes executivos que trabalham comigo: “Eu trabalho para vocês.” Eu estou no topo da empresa. Se você excluir o conselho de administração, poderia ser uma pessoa que ficasse solta no tempo aqui em cima. Trabalho para eles. Trago para mim muita responsabilidade porque compartilho com eles.
Mas a sra. acompanha 450 projetos. Como consegue?
Por isso que precisa ter procedimento e processo. E ter uma sequência de raciocínio. Não posso ler relatório e nem quero. Por isso, a gestão é fundamental.
Quando assumiu a presidência da Petrobras, a sra. passou a fazer parte de todas as listas de mulheres mais poderosas do mundo. O que é poder para a sra.?
Eu não sabia nem avaliar direito o que era estar nessas listas. A Petrobras tem papel fundamental no Brasil e América Latina. Ela é dona de um investimento grande, o maior revelado por uma empresa do mundo. E o fato ser uma profissional da casa, isso tudo junto confere esse poder, que é verdadeiro. Mas poder para quê? O poder é revestido de uma responsabilidade imensa com os acionistas controladores e minoritários. Tenho um incômodo profundo pelo valor das ações da Petrobras, que chega a me acordar às 4 horas da manhã. Mas sinto uma necessidade de reverter esse quadro da forma mais rápida e sustentável que puder ser.
Essa responsabilidade pesa?
Ela toma uma importância muito grande na minha vida. Mas não um peso.
A sra também já disse em entrevistas que a Petrobras era a prioridade de sua vida. Por quê?
Ela tem sido a prioridade da minha vida, em especial depois que meus filhos cresceram. Eu adoro ir para a praia, escutar música. Mas tantas coisas que adoro, deixo de fazer por que eu quero fazer a Petrobras. Então, ela é a prioridade nesse sentido. Mas eu faço isso com muito prazer.
Há quanto tempo não tira férias?
Férias, daquelas de 20 dias, eu já perdi do horizonte. Desde 2003 para cá que eu não sei o que são férias de cinco dias, que foi a mais farta que eu tirei. No ano passado, eu ia tirar férias, mas fui informada, desde dezembro, que haveria mudança na companhia. Então, adiei.
Que marca a sra. gostaria de deixar na Petrobras?
Eu quero aumentar a produção de óleo e sair desse incômodo que tenho com relação com as ações da companhia. Do petróleo vem tudo, vem mais dinheiro para as refinarias, mais petroquímica. Quero elevar as curvas de produção de óleo nos patamares que são factíveis. E isso está na nossa mão.
Esses camaradas são os maiores propagadores do comunismo no mundo (aqui)
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