17/09/2013 às 21:38
Vou parodiar os petralhas. Quá, quá, quá. KKK. Vocês queriam o quê?
Não tinha lido uma reportagem de Leandro Machado na Folha Online. Um leitor acaba de chamar a minha atenção. Pelo visto, agora que Caetano Veloso pode aderir ao anticapitalismo, Mano Brown, o Lênin do RAP, decidiu fazer o contrário. É… Se Caetano é black bloc, Mano Brown vira animador de “playboy”. Acho que faz todo sentido. Leiam trecho do texto da Folha.
*
Uma fila de Porsches, Mercedes, Ferraris e Range Rovers se formou na rua Quatá, na Vila Olímpia. Os mais modestos chegavam de i30 ou Fiat 500. O estacionamento, a R$ 30, ficou lotado. “Doors open at 10:00 PM”, dizia o flyer da Royal Club, balada de “mauricinhos” na zona sul de São Paulo. Era show dos Racionais MC’s, o maior expoente do rap brasileiro e voz autoproclamada da periferia.
Duas horas antes do show, anteontem, os carrões paravam e o público fazia a “social” na porta da casa. Os VIPs entravam correndo. Andrés Sanches, ex-presidente do Corinthians, entrou rápido e logo foi para o camarote –R$ 3.500 o mais caro, para dez pessoas. Denilson, ex-jogador e comentarista da Band, também não fez hora. “Você quer que eu fale da banda? Não conheço muito, mas pode anotar aí que eu gosto”, disse a promoter Gabriela Burbos, 20, salto altíssimo, shortinho e boné ao estilo “rapper” virado de lado. Na fila, ela encontra o amigo Rodrigo Queiróz, 22, jogador de futebol sem clube no Brasil, mas “com transferência certa para a Hungria”. Eles dizem ser habitué da Royal e, nesse domingo, tiveram a oportunidade de assistir a um dos grupos mais famosos do Brasil em um local, digamos, mais exclusivo.
Os Racionais, até o fim dos anos 90, tocavam apenas em casas dedicadas ao rap. Mano Brown dizia (e cantava) não gostar de playboys. A presença do grupo num lugar como a Royal seria impensável há dez anos. Em 2010, a banda se apresentou lá, mas sem sua clássica formação, com Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay. A Folha tentou conversar com a banda antes do show, mas os integrantes não falaram.
(…)
A Royal, que tem capacidade para 600 pessoas, estava lotada –o ingresso custava R$ 100 para homens e R$ 60 para mulheres. O bar, cheio, cobrava a R$ 16 uma cerveja e R$ 35 a dose de tequila. Nos camarotes, baldes com garrafas de champanhe eram servidos com velas de aniversário presas ao gargalo. Cada garrafa custava R$ 430. Por volta das 2h, começou uma batida e tudo escureceu. Uma fumaça branca e gelada foi lançada de um canhão no teto. Quando a névoa se dissipou, lá estavam os Racionais no palco.
(…)
Se não empolgou, não foi só por culpa da banda. O público parecia mais interessado em registrar a ocasião com smartphones do que em ouvir a música. Mano Brown só cantou. Não fez nenhum de seus famosos discursos. “Obrigado, São Paulo, segunda é dia de trampo”, encerrou.
Por Reinaldo Azevedo
Tags: Mano Brown, Racionais MCs
Os Racionais, até o fim dos anos 90, tocavam apenas em casas dedicadas ao rap. Mano Brown dizia (e cantava) não gostar de playboys
Mano Brown no show dos Racionais MC's no clube Royal, na Vila Olímpia
Lucas Fabbre, 18, estudante de engenharia civil pelo Mackenzie e morador do Tatuapé (zona leste), diz não conhecer muito bem as letras dos Racionais
Rodrigo Queiróz, 22, jogador de futebol sem clube no Brasil, mas com "transferência certa para a Hungria'.
Allana Zuniga antes do show dos Racionais MC no clube Royal na Vila Olímpia
Leticia Galhardo (esq) e Gabriela Burgos, 20, antes do show dos Racionais MC's
Beatriz Felix, 18, veio de Guarulhos. É fã de rap e frequenta uma batalha de MC's na capital
AGORA E TARDE DANILO GENTILI BRINCA A JUSTIÇA BRASILEIRA 18 09 2013
DE ROSTO COBERTO COMO BLACK BLOC, CAETANO PEDE
MANIFESTAÇÕES PACÍFICAS NO DIA 7 DE SETEMBRO
Caetano: “Em favor da paz, no dia 7 de setembro, todos deveriam sair mascarados como no carnaval, respondendo à violência simbólica, sem usar a violência" (Reprodução do Facebook)
DE ROSTO COBERTO COMO BLACK BLOC, CAETANO PEDE MANIFESTAÇÕES PACÍFICAS
Cantor e compositor se reuniu com o secretário de Segurança do Rio de Janeiro e pediu ponderação da polícia e dos manifestantes
Do jornal O Globo
O cantor e compositor Caetano Veloso cobriu o rosto como os Black Blocs e pediu que as manifestações [programadas para todo o país] deste 7de setembro, Dia da Independência do Brasil, sejam pacíficas.
Caetano publicou a foto em seu perfil no Twitter e no Instagram, na noite desta quinta, quando esteve na sede da Mídia Ninja, no Rio, para conversar sobre as manifestações que ocorrem desde junho.
“Em favor da paz, no dia 7 de setembro, todos deveriam sair mascarados como no carnaval, respondendo à violência simbólica, sem usar a violência. Proibir o uso de máscaras numa cidade como o Rio de Janeiro é uma violência simbólica”, escreveu Caetano Veloso em seus perfis.
Pedido de protocolo da polícia
Nesta quinta, Caetano e o músico Sidney Waismann, além de acadêmicos da área de segurança pública cobraram do secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, um protocolo de ações da polícia durante as manifestações de rua, que acontecem desde junho.
O objetivo é conseguir um comportamento mais ponderado da polícia e também de manifestantes.
O grupo entregou uma carta assinada por 26 formadores de opinião, como Chico Buarque, Zuenir Ventura e o próprio Caetano, que pede mais clareza e maior capacidade de planejamento das ações policiais nos protestos para evitar que haja violência.
O músico também pediu calma e tranquilidade aos manifestantes que forem para as ruas neste 7 de setembro.
— O 7 de Setembro reúne muita gente. Se os manifestantes saírem, que saiam em paz. Que levem um projeto de um dia pacífico. O melhor é o fim da violência dos dois lados — pediu Caetano depois de expor uma dúvida:
— Eu não entendo como é que a polícia pode ter agido de forma violenta quando cerca de quatro mil pessoas estavam perto da casa do governador e, depois, quando havia somente 50 pessoas depredando lojas, a polícia não agiu — disse ele, referindo-se à manifestação ocorrida na Zona Sul em julho, que culminou em baderna e confronto entre manifestantes e policiais.
Pelas manifestações, contra a violência e a baderna
A ideia do encontro com Beltrame partiu de Sidney Waismann, preocupado em garantir o direito de manifestação dos jovens.
— Somos totalmente a favor das manifestações. Viemos aqui pedir que a polícia tenha outra postura, sem pessoas infiltradas. A gente vê nas manifestações uma das coisas mais importantes que aconteceram nos últimos anos. Precisamos pedir à polícia que aja dentro da lei, dentro da ordem — disse.
– Mas também é preciso que os jovens entendam que manifestações pacíficas são muito mais produtivas do que as violentas. O mais importante é ver questões fundamentais como os Renans da vida, a corrupção, o desperdício de dinheiro público, que a gente viu, quase que magicamente, naquelas primeiras passeatas, através dessa juventude que pensávamos ser alienada — frisou Waismann, signatário da carta postada na internet.
Black Blocs detidos. Um deles também por pedofilia. Os crimes são inafiançáveis. (aqui)
Na quarta-feira, a Polícia Civil deflagrou operação para deter cinco integrantes do grupo Black Blocs, acusados de promover baderna e atos de vandalismo durante as manifestações.
Foram presos três maiores e apreendidos dois menores. De acordo com a chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, eles responderão a inquérito por formação de quadrilha armada e incitação à violência. Um dos presos também foi autuado por pedofilia porque em seu computador foram encontradas fotografias de menores praticando atos sexuais.
08/09/2013 às 17:33
CAETANO, O “NEW KID ON THE BLACK BLOC”, TENTA
SE EXPLICAR EM ARTIGO NO “GLOBO”. CHEGA A SER DEPRIMENTE!
Em artigo publicado no Globo neste domingo, o “new kid on the black bloc” Caetano Veloso tenta se explicar. Sugere que a foto para a qual posou, com um pano preto na cara, foi posta na rede à sua revelia. Parece que ele também teria sido enganado pela turma de Pablo Capilé. Acho que, nesse caso ao menos, Capilé é inocente. O texto é um daqueles primores de que ele é capaz, vazado numa linguagem caudalosa, porém ancorada no “cogito interruptus”. Volto a ele mais tarde para cobrar, como leitor, que desenvolva algumas ideias — se possível, no plano terreno. De toda sorte, noto que realizou seu intento: conseguiu ser notícia. Divirtam-se. Ah, sim: ele diz não ter ainda a certeza se é ou não anticapitalista. Pelo visto, está pensando no assunto. As alternativas existentes, como Cuba e Coreia do Norte, certamente o ajudarão a fazer uma escolha. Que bom!
Caetano precisa logo deixar claro a seus patrocinadores se acata o capitalismo (ainda que de face humana, é lógico!) ou incita os black blocs a depredar agências bancárias, por exemplo, uma vez que, segundo diz, eles “fazem parte” (não fica claro do quê…). O texto que está no site do jornal segue conforme vai abaixo, com aquele estranho começo. E a gente fica sabendo até que ele comeu sashimi.
Engraçado… Black bloc, pra mim, remete mais a carne sangrando. Não adianta agora tentar tirar o corpo fora sem um pedido de desculpas. Caetano se tornou, quando menos, corresponsável moral pelo grotesco espetáculo de violência patrocinado pelos black blocs, especialmente no Rio. Na Alemanha pré-nazista (estamos longe disso; só vou ao limite para que fique bem claro do que se trata), ninguém que quisesse paz dava piscadelas aos baderneiros de Ernst Röhm. Era tão claro o que ele queria que ninguém poderia reivindicar o benefício da ignorância. O texto de Caetano Black Bloc suscita outras questões. Ficarão para outro post. Acredito que o tenha escrito para provocar o debate. Eu cumpro a sua expectativa.
*
Um dia aventuroso
Agora vejo aqui que eles puseram a foto na rede e logo alguém tuitou que sou oportunista e incito a violência. Não. Entendo que Black Bloc faz parte. Mas nem anticapitalista convicto eu sou. E quero paz.
Nossa carta pedia a atenção do secretário para a necessidade de um protocolo de ação da polícia durante as manifestações. Na conversa com ele, reiteramos a necessidade do esclarecimento do que ocorreu com Amarildo; quisemos entender por que a polícia, que atirara gás e balas de borracha na multidão que se aproximava da casa de Cabral na Praia do Leblon, sumiu quando poucas dezenas depredavam bancos e lojas na Ataulfo de Paiva; sugerimos o abandono do uso de balas de borracha; exigimos que pessoas imobilizadas não mais fossem vistas apanhando.
O secretário é mais inteligente se tem tempo para desenvolver suas ideias do que parece ser nos poucos segundos em que o vemos na TV. E ele parece sincero. Mais do que tudo, expõe as enormes dificuldades que enfrentará quem tente fazer a polícia passar para um patamar diferente daquele em que está há séculos. As UPPs, grande trunfo do governo estadual, são obra sua. Todos os que foram falar-lhe reconhecem quão importante é o que elas esboçam. Dói em todos que elas estejam com o prestígio ameaçado. Uma profunda necessidade de Waismann nos havia levado ali. Ele precisa que as manifestações sejam pacíficas: descobriu que a violência não é arma eficaz. O 7 de Setembro vinha sendo anunciado como um dia de grandes demonstrações. Muito poderá ter se definido nesse dia.
Estou escrevendo ao chegar em casa, de volta, não da secretaria, mas do apê da turma da Mídia Ninja. É que Sidney queria falar com alguém que estivesse mais perto dos manifestantes. Saímos da Central, ele, Olga Bronstein, Yvonne Maggie e eu, de metrô, rumo à Zona Sul. Paramos no Largo do Machado, elas seguiram de táxi, e nós dois fomos comer sashimi. Sidney estava certo de que havia uma reunião da Mídia Ninja na UFRJ e me arrastou com ele. Chegamos ao enorme prédio da universidade e ninguém sabia nos dizer onde se dava a tal reunião. Numa portaria indicada, o porteiro fez umas ligações para descobrir. Daí apareceu uma moça, bonita e elegante em sua simplicidade, e nos disse que Carioca estava num apartamento ali em frente.
Sidney ainda perguntou se a reunião era lá. Não era “a” reunião, mas eles estavam lá e queriam falar conosco. Andamos com ela. Carioca nos encontrou na faixa de travessia de pedestre. Muito doce, ele foi conversando até entrarmos no apê. Tudo muito limpo e alegre. Contava que um membro do Black Bloc tinha ido à reunião da véspera e que os aconselhara a não sair no dia 7. Eles, blocs, iam, mas os outros não deviam ir. Perguntei se isso seria uma ameaça. Não parecia, ele disse. Contava mais para mostrar como os discursos dos manifestantes têm sido variados.
Repetia sempre a palavra querida dos Fora do Eixo: “narrativa”. Mas a conversa dele era boa. Ele explicava o sentido de certos atos violentos, mas entendia os argumentos de Sidney. Um outro rapaz e uma outra moça estavam na sala quando chegamos. Já no meio do papo chegou uma terceira. Só a menina que nos levou até eles não é moradora. Nem mesmo ninja. Ela é da Maré e vive em Parada de Lucas. Diz que prefere ação a palavras. Mas fala muito bem. Desiludiu-se com as UPPs, nas quais tinha posto fé no início. Mas conta que o pai, morador da Maré, é defensor da inovação de Beltrame. Essa conversa foi muito reveladora da alma do Rio neste momento. Antes disso, os ninjas me pediram para gravar uma fala sobre a proibição do uso de máscaras. Eu sou apenas um velho baiano mas moro aqui há muitos anos e acho que proibir máscaras numa cidade como o Rio é violência simbólica.
E sugeri que no dia 7 todos saíssem com máscaras, respondendo com beleza e sem violência. Daí eles me pediram para posar com uma camiseta preta atada ao rosto para eles mostrarem a Emma, que, segundo eles, gostou do meu texto sobre ela. Agora vejo aqui que eles puseram a foto na rede e logo alguém tuitou que sou oportunista e incito a violência. Não. Entendo que Black Bloc faz parte. Mas nem anticapitalista convicto eu sou. E quero paz.
Por Reinaldo Azevedo
Tags: Caetano Veloso, protestos
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