segunda-feira, 15 de abril de 2013

PERTO DA DIVISA, SUL-COREANOS LIDAM COM AMEAÇA DE GUERRA
Perto da divisa, sul-coreanos lidam com ameaça de guerra
Por Martin Fackler- The New York Times News Service/Syndicate

Munsan, Coreia do Sul – Quando Lee Jae-eun foi buscar as filhas gêmeas na creche e as colocou no carrinho de bebê com dois assentos, mal olhou para o helicóptero militar Blackhawk que pairava sobre a família, pouco acima dos arranha-céus.

Até mesmo em tempos de paz, é comum ver aeronaves militares voando baixo nessa comunidade residencial próxima da divisa fortificada que separa o sul capitalista do norte comunista. Contudo, estes não são tempos tranquilos e o ronco dos helicópteros serve para lembrar das tensões causadas pelas novas ameaças de guerra da Coreia do Norte.

Ainda assim, a dona de casa de 34 anos afirmou que a população se conformou em viver sob o risco constante e as ameaças ocasionais do vizinho belicoso mais ao norte.

'Claro, sempre ficamos ligados no próximo perigo', afirmou, segurando uma das gêmeas de um ano e cercada por outras mães que buscavam os filhos na creche. 'Mas viver aqui faz a gente ficar acostumada. Não tem tanta importância.'

Nas últimas semanas, o norte superarmado do jovem líder de rosto rechonchudo Kim Jong Un ameaçou a Coreia do Sul e os Estados Unidos com um ataque nuclear, declarando o 'estado de guerra' na península coreana. Negando-se a aceitar provocações, a presidente recém-eleita, Park Geun-hye, a primeira da Coreia do Sul, ordenou que os generais reajam caso sejam provocados.

Apesar do ritmo constante das ameaças, a vida continua na maior parte da Coreia do Sul, a potência industrial que renasceu das cinzas da Guerra da Coreia, ocorrida entre 1950-53, tornando-se uma das histórias de sucesso econômico da Ásia. Em nenhum lugar as pessoas estão tão determinadas a manter o arduamente conquistado padrão de vida de classe média quanto em Munsan, um subúrbio distante da capital sul-coreana Seul, próximo à fronteira: a zona desmilitarizada, que demarca o local onde as batalhas foram interrompidas há 60 anos.

Munsan já foi uma série de vilarejos rurais conhecidos por suas saborosas enguias, mas se transformou em um subúrbio que cresceu rapidamente, ganhando prédios altos e lojas iluminadas há uma década, durante a era de reaproximação política com o norte, quando o valor dos imóveis cresceu drasticamente no sul. Mais recentemente, o desenvolvimento perdeu ímpeto, desde que a crise financeira internacional atingiu a economia exportadora do sul e novas tensões com o norte afastaram possíveis compradores.


Jean Chung/The New York Times

Algumas das 47.000 pessoas que vivem aqui afirmam que aprenderam a aceitar a presença constante dos helicópteros ao lado de suas janelas, além das filas de tanques que às vezes fecham as ruas durante exercícios de treinamento, levando alunos a se atrasarem para a escola. As pessoas dizem que também aprenderam a ignorar os bunkers de concreto e as torres de guarda ao longo da estrada que usam todas as manhãs quando vão a Seul, 56 quilômetros ao sul.

A população simplesmente ignora os perigos e se concentra em curtir o dia a dia.

'A Coreia é o lugar mais perigoso do mundo, mas simplesmente não percebemos mais isso', afirmou Song Hyun-young, funcionário do departamento imobiliário da prefeitura de Paju, que tem jurisdição sobre Munsan. 'Se acontecer alguma coisa, morreremos todos juntos, então não há muito em que pensar.'

Quando pressionados, muitos admitem que ficaram ansiosos com as últimas ameaças da Coreia do Norte e com o fato de que o novo arsenal nuclear seja controlado por um líder imprevisível e desconhecido. Alguns também culpam a própria Coreia do Sul pelas imposições impostas à Coreia do Norte, um país fechado e empobrecido.

'Para ser honesta, a ameaça de ataque nuclear é muito mais assustadora desta vez', afirmou Lee, a mãe dos gêmeos. 'Acho que a Coreia do Norte está encurralada e todos que ficam nessa situação acabam reagindo.'

Em resposta a essas preocupações, funcionários do município de Paju realizaram recentemente um exercício de evacuação com a polícia, os bombeiros e o exército. Em caso de ataque, os cidadãos serão levados para um dos nove novos abrigos antibomba subterrâneos, construídos pela cidade após a última provocação da Coreia do Norte: o bombardeio de uma ilha sul-coreana que deixou dois civis mortos há três anos. Os abrigos receberam novos carregamentos de lanternas, remédios, máscaras de gás e kits de primeiros socorros, afirmam autoridades.



Contudo, a maior parte das pessoas não tomou precauções similares. Nenhum dos entrevistados afirmou estar estocando comida e outros mantimentos. Muitos afirmaram ter certeza de que essas preparações seriam desnecessárias, pois tinham confiança que a origem compartilhada pelos dois países falaria mais alto, impedindo a Coreia do Norte de cumprir as ameaças apocalípticas.


'O mundo todo pensa que estamos às vésperas de uma guerra, mas estamos bem', afirmou a agente imobiliária Gong Soon-hee, de 55 anos, cujo pequeno escritório está recoberto de mapas que mostram um quebra-cabeças de terrenos particulares que acaba abruptamente na zona desmilitarizada, a poucos quilômetros dali. 'Os coreanos são pessoas boas e gentis, não são estúpidos que começariam uma guerra do dia para a noite.'

Apesar das tensões, Gong afirma que novos compradores continuam a chegar, atraídos por preços que não chegam a um décimo dos praticados no centro de Seul. Quase todos percebem os helicópteros que voam em formação a poucos metros dos apartamentos que desejam comprar, afirmou.

'Acho que poderíamos nos esconder em garagens subterrâneas, caso comecem a soltar bombas', afirmou, 'mas não perdemos tempo com planos de fuga'.

Outros afirmam que o impasse revela o fato de que o sul está em uma posição fragilizada, já que tem mais a perder com as ameaças do norte. Há quem diga que a maior vulnerabilidade da Coreia do Sul seja o fato de seus cidadãos não estarem dispostos a abrir mão de seu padrão de vida atual, algo que facilitaria muito a 'compra' do norte.

'Se as coisas vão continuar assim até que ajudemos nossos vizinhos, então é melhor darmos logo uma mão', afirmou a dona de casa Park Soon-yi, de 44 anos, com uma risada. Mas a brincadeira parecia ter um fundo de verdade, enquanto Soon-yi fazia compras no Hillstate, um shopping e prédio de apartamentos de luxo. 'Então eles ficariam quietos e nos deixariam em paz.'

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