terça-feira, 20 de outubro de 2015

Rachel Sheherazade foi 'cara pintada' e protestou contra aumento de passagem de ônibus



Rachel Sheherazade, uma das âncoras do telejornal SBT Brasil e crítica ferrenha do PT e da presidente Dilma Rousseff, conta em "O Brasil Tem Cura" (Mundo Cristão) que já participou de algumas manifestações. "Participei de algumas passeatas, entoando palavras de ordem, marchando contra as injustiças sociais e contra o que chamavam de "opressão capitalista", narra, se referindo à segunda metade dos anos 1980.

livro, em pré-venda com lançamento previsto para 06 de novembro, traz análises e possíveis soluções para os problemas políticos, sociais e econômicos do país.
Sheherazade ficou conhecida pelos seus comentários durante o telejornal exibido pela emissora de Silvio Santos. Após se envolver em algumas polêmicas, como quando ela disse achar "compreensível" a ação de um grupo de "justiceiros", a jornalista foi proibida de expressar sua opinião no ar.

No site da editora, a jornalista escreve: "Convido-o a, juntos, descobrirmos por que nosso país enveredou por caminhos tão penosos e a refletir acerca de quais escolhas nos têm feito pagar um preço tão alto por sermos brasileiros. Proponho-me a indicar e a contextualizar as que entendo ser algumas das principais mazelas do Brasil, de modo que sirvam de ponto de partida para repensarmos tudo o que precisa ser mudado."
Abaixo, leia um trecho de "O Brasil Tem Cura"
*
Nasci em um país doente. A democracia representativa convalescia no Brasil, pois vivíamos um regime de exceção desde 1964, quando a ditadura militar mudou a realidade do país. Liderados pelo general Olympio Mourão Filho e com forte apoio de setores importantes da sociedade, os militares se anteciparam a um provável golpe comunista no Brasil e depuseram o então presidente João Goulart, que fugiu para o Uruguai. Por vinte anos, cinco militares - dois marechais e três generais - se revezaram no Governo. De 1969 a 1974, o país foi governado pelo general Emílio Garrastazu Médici, sucedido por Ernesto Geisel. Os chamados "anos de chumbo" da ditadura militar foram marcados por perseguições políticas,

desaparecimentos, torturas e mortes.

Aprendi logo cedo que, no Brasil de então, não podíamos falar certas coisas. Não raro, flagrava meus pais criticando - quase aos sussurros - o presidente João Figueiredo, sucessor de Geisel. Lembro-me de que, certa vez, tentei maldizer Figueiredo, alto e bom som, mas fui duramente repreendida e censurada por meus pais. Aos 7 anos, eu sentia, pela primeira vez, como era estar amordaçada.

No Brasil dos militares, era proibido discordar. Então, cresci sem ousar dizer o que pensava, sem questionar o que estava estabelecido, sem divergir, sem dizer "não". Em casa, na rua, na música, nas artes, nos templos, nas redações de jornais... não havia espaço para o pluralismo de ideias. Éramos reféns de um Estado policialesco, que vigiava cada opinião e impunha aos cidadãos a ditadura do pensamento único. A "verdade oficial" era a única permitida.

Na segunda metade dos anos 1980, o país já vivia outra fase: a Nova República. A democracia, finalmente, se restabelecia e tudo parecia permitido. Nessa nova era de liberdade, vivi meus "anos rebeldes", protestando com outros estudantes contra o aumento das passagens de ônibus. Participei de algumas passeatas, entoando palavras de ordem, marchando contra as injustiças sociais e contra o que chamavam de "opressão capitalista". Nos anos 1980, não havia ainda os tais black blocs, nem os militantes "profissionais", que protestam em troco de mesada e sanduíche. Quem saía às ruas fazia isso espontaneamente e por convicção. Quem assim protestava não se valia do vandalismo para se fazer ouvir. Nossa força era a retórica; nossas armas eram as palavras.

Vieram os anos 1990 e, pela primeira vez desde a redemocratização, um presidente foi eleito por voto direto, o voto do povo. Foi um período de grande esperança. O novo presidente se dizia inimigo mortal dos corruptos e fez fama combatendo os bon vivants do serviço público, que recebiam fortunas a título de salários. Com discurso eloquente e caricato, Fernando Collor, ex-governador de Alagoas, se intitulava "o caçador de marajás". No entanto, após dois anos de um mandato marcado por um plano econômico malsucedido e medidas impopulares - como o confisco das poupanças -, o então presidente da República foi acusado pelo próprio irmão, Pedro, de enriquecimento ilícito, tráfico de influência e evasão de divisas.

Uma onda de indignação tomou conta do país. Como tantos outros estudantes por toda a nação, juntei-me ao coro "Fora Collor". De camiseta preta e rosto pintado de verde e amarelo, saí às ruas, em 1992, para exigir o impeachment do presidente. O movimento ganhava corpo em todo o país, e a imprensa passou a nos chamar de "caras-pintadas". Diante de tantas pressões, popular e política, em 29 de dezembro daquele ano Collor renunciou, e eu senti, pela primeira vez, que o povo unido e organizado poderia, sim, fazer valer sua vontade e mudar os rumos do país. Eu pensava: "Se ajudamos a destituir um presidente, então ninguém nos derruba...". Enquanto Fernando Collor de Melo descia a rampa do Palácio do Planalto, seu vice era empossado presidente. Subia ao poder Itamar Franco.
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AUTOR Rachel Sheherazade
EDITORA Mundo Cristão
QUANTO R$ 19,90 (preço promocional*)

Atenção: Preço válido por tempo limitado ou enquanto durarem os estoques.

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