Eu sei que o assunto não é novo. Mas só agora pude postar.
Em resumo, é o seguinte: uma turma criativa de estudantes mineiros criou uma cachaça e resolveu batizá-la com o sugestivo nome de João Andante. Criaram um rótulo bacana, cheio de simbologias e, de boca em boca e com uma ajudinha da internet, começaram a fazer sucesso com sua criação. Vendem, em média, 200 garrafas da marvada por mês. Foi o que bastou para a gigante Diageo, fabricante do uísque Johnnie Walker –que vende 150 milhões de garrafas por ano em mais de 200 países– resolvesse pegar no pé dos garotos de Minas e entrou com uma ação na justiça alegando plágio e pedindo que o registro da marca João Andante seja caçado.
Os detalhes de todo o imbróglio você pode conferir nesta matéria do Estado de Minas e nesta outra matéria do portal iG. Reproduzo abaixo alguns trechos mais interessantes de cada uma delas e, logo depois, algumas informações bacanas sobre o processo de criação da João Andante. E torço, claro, pela vitória do nosso primo pobre.
”Quando recebeu o primeiro comunicado da Diageo, em fevereiro, o empresário e seus sócios ficaram paralisados. Não sabiam nem quem era aquela companhia, que mandava retirar a marca do mercado em cinco dias, tudo escrito em juridiquês. “Mas não dava nem para ficar com raiva. O texto dizia que fabricavam Johnnie Walker, Guinnes, Smirnoff e mais um monte de coisas”, lembra Silva. “Se fossemos ficar bravos com a companhia, íamos ter que parar de beber.”
Passado o susto, chegaram à conclusão de que não haviam feito nada de errado. Encontraram um escritório especializado em propriedade intelectual, que aceitou o caso. “Nos disseram que, de cerca de seis mil contestações do tipo feitas por ano, o INPI acata pouco mais de duzentas”, afirma. Os planos agora são seguir em frente. (…)
Segundo o INPI, o pedido está em análise e não há previsão de quando sairá uma resposta definitiva. Até que isso aconteça, a marca está valendo. “A briga ainda é entre a Diageo é com o INPI”, diz Silva. “Se o INPI achar que estava errado ao nos dar o registro, aí sim vamos ver o que a gente faz”, diz o empresário, que assim como os outros sócios, tem outro emprego para viver. Uma solução, é certo, pode ser beber o estoque.”
……
“Na peça judicial, o escritório que defende a Diageo no Brasil apresenta como argumento a história de quase dois séculos do uísque, as supostas semelhanças entre as duas marcas e duas citações da internet que associam o produto mineiro ao destilado escocês. A primeira diz que João Andante seria um primo de Johnnie Walker que veio para o Brasil durante a 1ª Guerra Mundial e, impedido de fabricar uísque diante da falta de matéria-prima, resolveu fabricar cachaça. A segunda mostra uma foto de um comprador da pinga com a garrafa em mãos e a seguinte frase: “João Andante, a original! Se cuida Johnnie Walker” (sic). E acusa de má-fé os criadores da cachaça (…)”
(…) Na avaliação dos jovens empresários, o plágio se caracterizaria por gerar confusão entre os consumidores. “Se fosse uma cópia, teríamos uma caixa quadrada e vermelha. Mas não. A nossa é marrom e redonda. Eles estão subestimando a inteligência do consumidor. Você acha que alguém vai confundir um uísque com uma cachaça?”, criticam os quatro, três deles hoje com 25 anos, reiterando que as duas bebidas nem mesmo dividem as prateleiras, pois, por enquanto, a venda da pinga é feita exclusivamente para amigos.
Conceito complexo
A inspiração para a criação da marca João Andante não se restringe ao uísque. Durante a conceituação, feita em parceria com a agência júnior de comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cria , foram listados alguns ícones para a concepção. A ideia era associar a pinga a um personagem com características de um sertanejo e de um caxeiro-viajante. Assim, escolheram o Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, e o lendário andarilho Juquinha, que até ganhou estátua na Serra do Cipó. Além disso, foi usado o quadro Dom Quixote (1955), criação de Pablo Picasso. Do primeiro, foi usada a tipografia para compor o nome do produto; o segundo serviu como pano de fundo para a composição conceitual, enquanto, de Picasso, foi extraída a cabeça da imagem para compor o boneco da marca. Consta também no argumento dos mineiros que o nome da pinga não seria uma tradução literal do uísque, como consta na petição. Walker é do sobrenome da família criadora do destilado no século 19, enquanto Andante seria uma referência a um andarilho errante. E, claro, a tradução de Johnnie seria Joãozinho e não João, escolhido também por ser um dos nomes mais populares do Brasil.
Já o famoso ícone da marca Johnnie Walker, chamado de Striding Man, ou andarilho, foi criado em 1908, pelo cartunista Tom Browne e acabou sendo utilizado em anúncios natalinos já naquele mesmo ano. A tradicional figura, com chapéu de pele de castor, túnica vermelha, calça branca botas de montaria, e monóculo inquisitor, representava a “elegância” e a saga da família Walker. Depois a marca foi evoluindo até chegar ao ícone monocromático que conhecemos hoje.
Agora, independente da briga estilo Davi x Golias que a marca inglesa resolveu bancar, não podemos negar que as propagandas (como esta do vídeo abaixo) do Johnnie Walker são do balacobaco.
http://youtu.be/RTtcNP7lmUo
O pessoal da João Andante, além do site ( http://www.joaoandante.com.br ) tem perfil no twitter @joaoandante e no Facebook ( João Andante ). O e-mail para contato é joao@joaoandante.com.br
E já que o assunto é cachaça, recomendo mais uma vez o site Mapa da Cachaça, particularmente este post com dicas sobre como comprar a dita sem erro. Agora que nosso destilado brasileiro ganhou até prêmio do Paladar como produto do ano, você pode colocá-la na lista de bons presentes para o Natal.
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Osvaldo Aires Bade Comentários
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