O mito da medicina cubana
Em vistas do movimento da frente nacional de prefeitos para a autorização automática de diplomas de médicos formados no exterior, fui buscar na internet textos que demonstrassem de forma imparcial (sem a paixão PTista pelo socialismo) a realidade do curso de medicina na ilha de Cuba. Foi difícil, mas está aqui o resultado.
Anualmente são, muitos os brasileiros que saem daqui em busca do sonho de tornarem-se médicos. Cuba é um dos principais destinos, por não exigir prova de seleção, e também por terem suas vagas abertas a partidos políticos e organizações “vermelhas”. Na minha pesquisa, foi encontrado que o MST e organizações indígenas indicam e enviam estudantes para cursarem medicina no país de Fidel.
Como é de conhecimento de todos, as estatísticas manipuladas pelo governo de Cuba mostram uma medicina perfeita. Temos poucos relatos sobre a qualidade do curso de lá, pois muitos dos que cursaram, por algum motivo não falam sobre o assunto. Se falam, não pontuam um erro sequer do sistema. Isso me causa certa estranheza, uma vez que desconheço perfeição em qualquer coisa, sistema ou pessoa.
Encontrei este texto, um dos poucos sobre o assunto, veiculado em 2004 no site do CFM. Nele, Edson de Oliveira Andrade relata suas impressões sobre o que viu quando foi em missão para conhecer o sistema de formação médica de Cuba. Apesar de antigo, o texto continua atual. Os índices de aprovação no REVALIDA continuam ridículos e o atual contexto político brasileiro exige a retomada e a publicação de mais relatos apartidários a respeito da situação da formação médica na América Latina.
O Revalida, e outros meios de acreditação do conhecimento do egresso, na opinião deste estudante que vos fala, deve existir e deve ser transparente. Mas esse não é o objeto de discussão perante a este post especificamente.
O mito da medicina cubana
Escrito por Edson de Oliveira Andrade*
O mito faz parte da natureza humana. Com ele buscamos explicar o inexplicável e dar uma dimensão sobre-humana às nossas limitações. Mas os mitos não são, em sua totalidade, desprovidos de uma razão fática ou pelo menos racional. Os mitos são apenas uma ampliação dos nossos anseios individuais compartilhados num coletivo que se apropria do uno em prol do multi. Esta introdução , que expressa o meu entendimento deste fenômeno social, serve apenas para conduzir o leitor pelo raciocínio que segue neste texto.
Durante cerca de 10 dias estive em missão oficial em Cuba, fazendo parte de uma comissão do governo brasileiro que foi àquele país para observar o ensino médico ali realizado, visando futura revalidação conjunta de diplomas universitários médicos. Naquele belo país, de povo gentil e hospitaleiro, podemos observar como os colegas cubanos formam os seus médicos e como exercem a profissão, bem como tivemos a oportunidade de ouvir o relato de suas conquistas na saúde pública e o decantado progresso científico ali alcançado.
Quando embarquei para Havana levava comigo uma pergunta remanescente a martelar minha cabeça: por que os médicos formados em Cuba são reprovados quando tentam revalidar os seus diplomas nas universidades brasileiras? Uma outra pergunta já me tinha feito: seria o processo brasileiro de revalidação exigente em excesso?
Ainda no Brasil, havia procurado ter conhecimento do teor das provas aqui realizadas. Na ocasião, pude observar que o conteúdo era semelhante ao adotado para o provão da residência médica. Nada absurdo ou exagerado. Por tanto , ir à Cuba me proporcionaria a oportunidade de tentar obter a resposta ao questionamento que me parecia confrontar com a mítica competência cubana em formar médicos. O que lá encontrei, a par dos quase seiscentos estudantes brasileiros ali se preparando para serem médicos, foi gente séria ensinando jovens inteligentes a serem médicos para um sistema que os cubanos acreditam ser o melhor.
Presença brasileira
Os estudantes brasileiros ali chegaram através de um sistema autofinanciado (aproximadamente U$ 8,000 anuais)- existente até o ano passado – ou mediante um processo seletivo confuso e não democrático onde predominam as indicações políticas. Ressalte-se que todos esses estudantes são admitidos sem prestar exame vestibular. Lá, como no Brasil, se leva seis anos para formar um médico. As semelhanças quase que param por aí. Digo quase porque, nominalmente, as disciplinas dos dois cursos em muito se assemelham. Os seus conteúdos, entretanto, não apresentam a mesma similitude. Lá foi possível constatar que os estudantes estudam muito, mas, como em todos os lugares, basicamente o que lhes ensinam ou os orientam a aprender. É incontestável que há uma brutal estratificação e controle da prática médica. Lá o médico faz apenas o que o Estado cubano lhe permite fazer. Isto significa adequar o seu conhecimento às possibilidades provedoras do Estado, que por sua vez são, a olhos vistos, limitadas e insuficientes, conforme nos foi apresentado pelas autoridades cubanas da saúde e como nos foi possível constatar neste breve e superficial “recurrido”.
Tudo isto tem reflexos sobre o tipo de formação ali instituída. O médico cubano recém-formado é um médico contingenciado em seus conhecimentos. Vejam bem, estou usando a palavra contingenciado e não mal-formado, pois tenho a convicção de que este processo é intencional para adequar as demandas futuras dos recém-formados às possibilidades do Estado cubano de atendê-las. Se não sei, não peço. Se não sei, não exijo. Existe um fato, também inquestionável, que se traduz na obrigatoriedade de o médico cubano (e só ele) cursar, após formado, três anos de medicina geral e integrada. Esta suplementação de conhecimento é o reforço que eles mesmos reconhecem ser necessário para a formação do médico cubano (e só para ele). Mas o reconhecimento da insuficiência da formação médica cubana também é manifestado quando Cuba trata os estudantes norte-americanos que ali estão de modo diferenciado, oferecendo-lhes um currículo particular a fim de que possam obter a aprovação nos exames de revalidação a que são submeti dos nos Estados Unidos da América do Norte.
Por tudo que vi, ouvi e pude apreender nesta viagem à bela ilha de Cuba, creio que passo agora a ter, se não no todo, mas pelo menos em parte, a resposta à pergunta que me acompanhou quando de minha partida. Os médicos recém-formados em Cuba não conseguem aprovação nas provas de revalidação de diplomas no Brasil porque a sua formação é deliberadamente limitada, com ênfase nos cuidados básicos – importantíssimos , por certo, porém insuficientes para o exercício de uma medicina plena, como precisamos e exercemos no Brasil.
Um mítico Estado provedor que controla tudo de forma onipotente e insuficiente precisa, compreensivelmente, do ponto de vista do exercício do poder, criar mecanismos de controle das demandas que não pode atender. A formação médica em Cuba, como parte importante daquela sociedade, não poderia ficar fora deste processo de controle de um Estado forte e centralizador.
Ao voltar, vim absolutamente convicto de que o ensino médico em Cuba é sério, porém insuficiente; os seus professores são dedicados e os alunos com quem mantive contato, interessados e tidos por seus mestres como estudiosos. Assim, penso ser desnecessário qualquer tratamento diferenciado aos formandos daquele país, bastando que modifiquem os seus currículos, como fizeram para os americanos do Norte, que por certo obterão êxito quando das provas de revalidação dos diplomas no Brasil. Hoje, como está, não dá! Para valorizar a medicina cubana não é preciso mitificá-la. O seu valor real reside no seu sucesso e nas suas deficiências. Submeter os médicos que ali se formam a uma avaliação justa e transparente será algo salutar e necessário para o Brasil e, principalmente, para o ensino médico em Cuba.
* É pneumologista e ex-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Tendo considerado o texto acima o mais imparcial encontrado, fui a procura de vídeos no Youtube sobre o assunto. São inúmeros os que mostram que Cuba produz a melhor medicina do mundo. Boa parte deles demonstram um caráter propagandista e governista. Há entrevistas de alunos brasileiros que destacam a qualidade da medicina preventiva do país e a qualidade do curso fornecido, sem jamais apontar problemas, nesses vídeos podemos vislumbrar um sistema de ensino e produção de saúde perfeito. Pode-se encontrar também uns poucos produzidos por dissidentes cubanos e poucos mais produzidos por canais de televisão norte-americanos e latinos, que mostram uma assistência a saúde precária (há um vídeo que mostra a lavagem e reaproveitamento de luvas cirúrgicas utilizadas em um parto).
Aqui, coloquei um pequeno vídeo que compara a saúde fornecida a estrangeiros e a saúde fornecida aos cidadãos cubanos. Os demais que relatei acima não incorporei ao post, ou por considerar ufanista demais ou por conterem imagens fortes.
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