Soninha Francine (PPS) argumenta durante o debate (Nelson Antoine/ Fotoarena)
Empatada em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, candidata do PPS à prefeitura de São Paulo fala sobre propostas para a cidade e critica o PT, "um partido que não só acoberta, mas defende desvios de conduta"
Branca Nunes
Mesmo destoando – na maneira de falar, vestir-se e se comportar – da imagem convencional de candidatos à prefeitura, Soninha Francine (PPS) segue em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, empatada com os concorrentes Fernando Haddad (PT) e Gabriel Chalita (PMDB). Embora admita que algumas mudanças pudessem ampliar o patrimônio eleitoral, ela rejeita concessões. “Não consigo ficar muito tempo falando devagar, de braço cruzado”, exemplifica. “Em poucos minutos estou querendo subir na mesa”.
Em entrevista ao site de VEJA, Soninha falou sobre propostas para a cidade, criticou o PT – que deixou em 2007, depois de descobrir que o partido “não só acobertava, mas defendia desvios de conduta” – e disse acreditar ser possível eleger-se, mesmo que só uma legenda, o PMN, esteja coligada ao PPS. Ela afirma que não se constrange com a presença da deputada federal Jaqueline Roriz (DF), flagrada recebendo propina, entre os quadros do partido. “Se o PMN me proibisse de falar sobre isso, não entraria nem na aliança”, garante. “Se dependesse de mim ela teria perdido o mandato”.
Como a senhora avalia esse começo de campanha? Comparando com a campanha de 2008, temos tido mais tempo para falar para pequenos grupos e diferentes categorias profissionais. São pequenas sabatinas. Eu adoro isso. Agora, nas mídias de massa, o tempo é muito desigual. A ordem dos candidatos conforme as pesquisas de intenção de voto foi ignorada. Desde o começo, três candidatos têm muito mais destaque do que os outros: o José Serra (PSDB), o Fernando Haddad (PT) e o Gabriel Chalita (PMDB). O Russomano está em segundo lugar e eu em terceiro há bastante tempo, mas isso não é levado em consideração.
O que a senhora tem que falta aos demais candidatos? A soma de experiências e a vivência que tenho da cidade. Fui vereadora e subprefeita, experiência que, de muitas formas, pode ser mais difícil que a do prefeito, porque os problemas chegam mais perto e, ao mesmo tempo, você tem menos poder para resolvê-los. Nem o José Serra, tendo sido prefeito, imagina alguns detalhes da máquina pública da ponta: como obter licença de funcionamento, como algumas coisas são arcaicas, como os órgão da prefeitura batem cabeça. Também uso a cidade como cidadã, ando de ônibus, de metrô, caminho pelas calçadas.
Alguns dos seus concorrentes destacam as vantagens do “novo”. Isso é uma qualidade? Uma boa pergunta é saber se essas pessoas são realmente novas. Ser uma novidade nas eleições municipais não significa necessariamente renovação. Quem adotou o novo como slogan de campanha foi o Fernando Haddad, mas ele vem com a bênção do presidente dos últimos oito anos e num processo de escolha de candidato que não foi rejuvenescedor. Ao contrário, foi até caudilhista.
O que a senhora acha que fez de mais importante na Câmara Municipal, na subprefeitura e na Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades (Sutaco)? Como vereadora, minha maior vitória foi ter resistido a pressões, porque existe uma intimidação grande para cima de quem é voto contrário. Mesmo com represália e falta de apoio, consegui aprovar projetos legais, como o que obriga a prefeitura a comprar cada vez mais material reciclado ou o que determina que seja publicado o nome de todos os servidores públicos. Como subprefeita, consegui melhorar a relação com os funcionários e a comunicação com a população. Na Sutaco, criamos duas lojas, o que aumentou a receita de 2 000 reais por mês para 20 000 reais, retomamos os cursos de artesanatos e investimos na qualificação de funcionários.
Segundo o último Datafolha, 19% dos eleitores rejeitam a sua candidatura. A que a senhora atribui esse índice? A basicamente três coisas. Primeiro, a rejeição de quem foi meu eleitor e não aprova o fato de eu ter saído do PT e ido para a oposição. Depois, existem aqueles que não me conhecem e falam “Soninha? De onde vem essa criança?” As pessoas não me dão 44 anos. E tem as pessoas que me conhecem muito superficialmente e falam “Soninha? Sei, aquela da capa da maconha (em 2001, a foto de Soninha apareceu na capa de uma revista ao lado da frase “eu fumo maconha”), aquela da bicicleta”. Esse primeiro grupo dos refratários eu não vou conquistar mesmo, mas aqueles que me conhecem superficialmente, percebo que quando escutam minhas propostas por 20 minutos mudam de ideia a meu respeito.
A senhora tem um perfil que difere dos padrões habituais de candidatos, principalmente na maneira de falar e de se vestir. Algum tipo de mudança poderia ampliar seu eleitorado? Se me arrumasse melhor, falasse mais devagar e gesticulasse menos, as pessoas talvez perdessem um pouco a resistência. Mas eu não consigo ficar muito tempo falando devagar, de braço cruzado. Em pouco tempo estou querendo subir na mesa. Não consigo fazer nada que não acredite. A mudança poderia ser até vantajosa, mas não acho que deva fazer isso para conseguir ser prefeita.
É possível vencer a eleição com poucas verbas e uma coligação pequena? Essa eleição especialmente. Em 2008, eu disputava com Geraldo Alckmin, Marta Suplicy, Paulo Maluf e Gilberto Kassab. Todos com muita história em disputa e o Kassab, que era o prefeito. Esse ano não. É uma disputa imprevisível. Acredito que o Serra vá para o segundo turno, mas, ao meu ver, ainda existe uma vaga em aberto. Eu, Gabriel Chalita e Fernando Haddad, que continuamos empatados, temos o mesmo desafio: desbancar o Russomano.
Num segundo turno, a senhora aceitaria o apoio do PP, de Paulo Maluf, que apoia o Fernando Haddad, ou do PR, de Valdemar da Costa Neto? Duvido muito desse apoio, porque iria impor condições para esse apoio que eles dificilmente aceitariam. O apoio seria condicionado à defesa do meu programa de governo e não a nomear ciclano ou beltrano para determinada secretaria.
E se um deles exigisse ser fotografado ao seu lado? Só se fosse uma foto com uma pessoa com quem eu não me envergonhasse de estar do lado. Uma foto com alguém que me constrange, mesmo que todas as outras condições tivessem sido aceitas, eu não seria capaz.
Por que tentar uma candidatura incerta no executivo se um cargo no Legislativo seria bem mais fácil? O que me trouxe para a política foi a frustração de não conseguir mudar coisas que estavam fora do meu alcance. O Legislativo influi, mas não determina. Quando fui eleita vereadora, esperava chegar lá e convencer meus pares de que determinado projeto era bom, viável, relevante. E não é nada disso. É feito um acordo entre os líderes da bancada. No plenário, é comum um parlamentar olhar para o líder e perguntar: é para votar sim ou não?
Cinco anos depois de deixar o PT, como a senhora enxerga o partido? O discurso do PT não condiz com a prática. As alianças políticas foram feitas com os piores tipos e critérios. Os aliados não se renderam ao programa de governo do PT. Eles disseram: quero esse ministério, a secretaria tal, quero indicar a diretoria de determinada estatal. Quando veio o mensalão, continuei defendendo o PT, porque acreditava que desvio de conduta poderia acontecer em qualquer lugar. A questão era corrigir. Quando vi que a direção do partido começou a acobertar, amenizar, quase defender os desvios, acabou para mim. É a Revolução dos Bichos! Um dos livros que mais me abalou na vida e eu vi acontecer.
O prefeito Gilberto Kassab deu nota 10 para a própria gestão. A senhora concorda?Acho que ele foi bem em algumas áreas. O Kassab fez mais CEUs do que a gestão da Marta Suplicy. E não mudou o nome, mesmo sendo um projeto do PT. Na cultura e com relação ao meio ambiente também vejo avanços. Em outras áreas, entretanto, foi muito mal. Na questão dos transportes, da habitação, da saúde e com relação às subprefeituras, ele não passa de ano sem recuperação.
Se a senhora só pudesse realizar um único projeto, qual seria? Incentivar e produzir moradias no centro para a classe de menor poder aquisitivo, criando condições para que as pessoas de renda mais baixa morem mais perto de onde trabalham. Isso não será feito em quatro anos, mas tem que começar agora. Com o IPTU progressivo, a prefeitura já tem mecanismos para desestimular imóveis ociosos no centro e evitar a especulação imobiliária. Com isso você diminui, inclusive, o problema da superlotação no transporte coletivo, porque menos pessoas precisarão se deslocar da periferia. Está mais do que na hora de a prefeitura oferecer moradia popular em locais mais bem equipados de transporte, lazer, cultura, esporte.
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Osvaldo Aires Bade
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