Ela é neta do velho fascista Jean Marie Le Pen, 84 anos, fundador do partido xenófobo Frente Nacional, pelo qual sua filha, Marine Le Pen, concorreu à Presidência da República no primeiro turno das eleições de 22 de abril passado, obtendo a maior votação da história da agremiação – 17,9% –, o que lhe valeu o terceiro lugar na corrida. No segundo turno, a 6 de maio, como se sabe, o socialista François Hollande venceu o presidente conservador Nicolas Sarkozy, que tentava a reeleição.
A parada será dura para a bela Marion, que é sobrinha de Marine Le Pen e com ela compartilha ideias sinistras, porque o sistema eleitoral de dois turnos também para a escolha dos 577 deputados – o segundo turno ocorrerá no domingo seguinte, dia 17 – costuma eliminar sem piedade radicalismos como o da Frente Nacional.
Se, em cada circunscrição, nenhum dos deputados obtém metade dos votos válidos mais um, há uma segunda rodada para a qual passam os que tiverem alcançado mais de 12,5% dos votos. É quando as políticas de aliança entre perdedores, aliadas ao bom senso do eleitorado francês, costuma peneirar candidatos extremistas, a ponto de a última vez em que a Frente Nacional elegeu um único parlamentar tenha sido no distante ano de 1986.
Mesmo com a Frente Nacional transfigurada em uma coligação denominada União Azul Marinho (um jogo de palavras com o nome de Marine, “marinho” em português, e com a presença do azul da bandeira francesa), as ideias que a sobrinha difunde são as mesmas da tia e que, embora tenham repercussão, não são majoritárias entre os franceses: cortar drasticamente a imigração, protecionismo contra a globalização e acima de tudo a “proteção da identidade francesa” e do “modo de vida” francês – o que, nas entrelinhas, significa repúdio aos cerca de 8 milhões (entre os 65 milhões de franceses) de origem árabe, descendentes de imigrantes da África negra, do Caribe francês e da Turquia, entre outras minorias étnicas.
Mais especificamente, como Marine, Marion defende posturas isolacionistas e anti-europeias e, no plano dos direitos e liberdades individuais, é partidária de uma plataforma que bate de frente com toda um elenco de valores de tolerância que, aos olhos do mundo, parece fazer parte da própria natureza da França.
Reduzir (não se sabe como) em 95% o número de imigrantes residentes na França num prazo de cinco anos.
Acabar com o jus soli, ou seja, o direito à nacionalidade para quem nasce no território, pelo qual atualmente milhões de franceses descendentes de imigrantes são cidadãos de pleno direito — inclusive o francês mais popular segundo as pesquisas de opinião, o ex-tenista Yannick Noah. Se depender de Marion, só será considerado cidadão francês quem for filho de francês, por sua vez nascido na França.
Fim do instituto do reagrupamento familiar: ou seja, o imigrante já naturalizado francês não pode trazer de seu país de origem ninguém da família para viver na França.
A revogação imediata do Tratado de Lisboa – espécie de Constituição da União Europeia.
A convocação de um plebiscito para decidir se a França permanece ou deixa a zona do euro.
O fim do livre acesso a cidadãos de outros países europeus à França, com a retirada do país do Tratado de Schengen, que hoje abrange 26 países e beneficia 400 milhões de pessoas com livre circulação pelas nações signatárias.
Saída da França OTAN, a aliança militar ocidental.
Marion diz que tem a política “nas veias” e admite que, antes de filiar-se ao partido do avô, flertou com a esquerda e fez muitas amizades entre comunistas. “Andei por aqui e por ali, e quis formar minhas próprias opiniões. No fim, porém, voltei ao ninho”.
Para tentar chegar à Assembleia Nacional, o partido escolheu a dedo uma circunscrição na Provence, sul da França, num departamento, Vaucluse, onde a tia teve sua mais alta votação em toda a França (31%), que já foi um dos principais celeiros de frutas do país e hoje se encontra empobrecido e com altas taxas de desemprego.
A circunscrição abrange a cidade de Carpentras, onde em 1990 a Frente Nacional foi acusada de ter sido indiretamente responsável pela violação de um cemitério judaico por bandos de skinheads neonazistas. O velho Le Pen, recentemente condenado na Justiça por haver dito que a ocupação nazista da França não foi “particularmente desumana”, negou responsabilidade no caso.
Trata-se, porém, de figura abjeta cuja biografia juvenil está eivada de episódios de violência e períodos na cadeia, que participou de torturas quando soldado francês na Argélia e nunca escondeu sua simpatia pelo fascismo e por Hitler.
A eleição na pequena Vaucluse, portanto, é bastante simbólica. A jovem Le Pen enfrenta um deputado conservador que se mantém no posto há seis mandatos e integra o partido União por um Movimento Popular do ex-presidente Nicolas Sarkozy.
Tags: Assembleia Nacional, eleições legislativas, França, Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, Marine Le Pen, Marion Maréchal-Le Pen, Provence, Vaucluse
COMENTÁRIOS:
Essa jovem consegue ainda ser mais burra do que bela. Em uma era na qual a ideologia do nacionalismo arraigado dá provas de estar em franca decadência e ideias de sociedades mais abertas e interdependentes, universais e pluriracias parecem gozar de aceitação cada vez mais ampla no concerto das nações, justamente é quando surge essa estúpida representante de antigas e obscuras ideologias, cujo estrondoso fracasso histórico parece não ter abalado as suas parcas convicções políticas.
Sinistro é ver um deputado francês (Jacques Myard) ser insultado por um muçulmano nas ruas de Sartrouville, que gritava “Esta (Sartrouville) é uma terra árabe, é uma terra que pertence aos muçulmanos, não é terra francesa. Vós sois um sionista. Fora daqui!”, ou seja, para o muslo, a frança não pertence aos franceses, mas sim, aos muçulmanos…grande exemplo de integração e respeito, sinistra mesmo é a Marine.
Também acho notável que episódios como este não são publicados na imprensa mainstream.
Não precisa carregar nas tintas também, né?
Ela não é tão bonita, não tem dentes perfeitos e a plataforma do partido não é essa treva toda.
O euroceticismo existe há muito tempo em vários países.
O Tratado de Lisboa teria mais legitimidade do que uma eventual maioria da população que queira revogá-lo? Esse tratado não passou por votação popular na França. Passou por plebiscito só na Irlanda e perdeu. Aí repetiram para o povo votar “certo”.
A questão de imigrantes é séria também. Na França, assim como na Alemanha e Reino Unido, há muitos imigrantes e descendentes de imigrantes que não se ajustam, querem obrigar o país a se ajustar a eles.
Sobre a OTAN, a França sempre foi malandrona. Sempre ficou à margem, sem se comprometer muito, e aproveitando os benefícios de ser membro de uma aliança militar.
O conjunto das propostas pode assustar mesmo porque é bem amplo e tem coisa que parece ser impensada. A saída do euro, por exemplo, seria péssima para a França. Só que são posições legítimas e que podem ser debatidas sem demonização como “foi acusada de ter sido indiretamente responsável pela violação de um cemitério judaico por bandos de skinheads neonazistas”.
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